Arquivo

No Canil Municipal da Guarda – parte 2

No passado dia 7 de Dezembro, o Senhor Médico Veterinário Municipal respondeu, na SIC, à minha indignação perante o que eu e alguns outros cidadãos presenciámos no Canil Municipal da Guarda nos dias 17 e 18 de Dezembro.

Entre outras afirmações ele disse, à laia de explicação, que os cães estão molhados porque alguns têm apetência por se irem deitar nos recipientes da água!

O que estaria o veterinário a dizer? Que os cães do Canil Municipal da Guarda apresentam alterações comportamentais que os levam a portar-se como focas?

Seria que o veterinário nos estava a querer dizer que os cães do canil apresentam alterações comportamentais por serem tratados quais objectos descartáveis, como os dejectos que saem de camiões do lixo como o que vimos ser lavado dentro das instalações do Canil no dia 30 de Novembro passado? Ou o carro que lá tinha estado a lavar no dia 17 do mesmo mês?

Ou seria que o veterinário nos estava a querer dizer que os cães do Canil estão de tal maneira perturbados pelo susto e tensão de serem acordados todos os dias às 6:30 da manhã com um jacto de água apontado à sua cela que se rebolam nas taças da água e por isso ficam molhados?

Não. Parece-me que, do que o Senhor Veterinário disse, podemos apenas concluir que os animais do Canil ficam, de facto, todos molhados – na cidade mais fria do país, em Novembro, em Dezembro, com o vento a entrar pelo espaço de mais de 10 centímetros no cimo de todas as portas, isto na melhor das situações, que é quando estão fechadas…

Perante uma denúncia relativa ao infringimento do Decreto-Lei nº 315/2003 de 17 de Dezembro sobre o bem estar animal, esperávamos que o responsável técnico superior do Canil Municipal falasse sobre a sua preocupação relativamente ao que fora denunciado e se propusesse corrigir o que de errado estivesse a ser feito. Mas não foi isso que fez. Para além de dar uma explicação totalmente inverosímil quanto à causa de os animais se encontrarem molhados e a tremer de frio a todas as horas do dia, o Senhor Veterinário lança para o ar o facto, que toda a gente sabe, de que um canil não é um hotel canino – como se quem denunciava estivesse a confundir os dois tipos de locais e, portanto, não se lhe devesse dar ouvidos.

Por fim, relativamente à queixa de não haver sequer caixa de primeiros socorros para um tratamento rápido, o Senhor Veterinário afirmou que um canil municipal não é um centro veterinário (o que as pessoas também sabem), esquecendo, contudo, o disposto na lei: “Todos os animais devem ser alvo de inspecção diária, sendo de imediato prestados os primeiros cuidados aos que tiverem sinais que levem a suspeitar estarem doentes, lesionados ou com alterações comportamentais” (nº 3 do artigo 13º do referido Decreto-Lei). Mais ainda: “Os animais que apresentem sinais que levem a suspeitar de poderem estar doentes ou lesionados devem receber os primeiros cuidados pelo detentor [centro de recolha] e, se não houver indícios de recuperação, devem ser tratados pelo médico veterinário” (nº 3 do artigo 16º do mesmo documento).

O Senhor Veterinário disse conhecer uma carta dos direitos dos animais mas o que tem mesmo de conhecer é a Lei portuguesa, que segue directivas europeias, e de que aqui trago apenas alguns excertos.

Por exemplo, sobre a ilegitimidade de manter os animais molhados e a tremer de frio no canil, cito o mesmo Decreto-Lei: “O manuseamento dos animais deve ser feito de forma a não lhes causar quaisquer dores, sofrimento ou distúrbios desnecessários (nº 4 do artigo 13º).

Assim, e para obstar a estes maus tratos infligidos pelos tratadores, bastaria mandar soltar os animais, outro requisito não seguido ultimamente no Canil: “Os animais devem dispor do espaço adequado às suas necessidades fisiológicas e etológicas, devendo o mesmo permitir: 1a) A prática de exercício físico adequado” (números 1 e 1a) do artigo 8º). Ou seja, basta soltarem-nos durante o período em que se lavam as celas para que um razoável bem-estar lhes seja permitido.

O cumprimento das normas de bem-estar animal estabelecidas é normal para quem gosta de animais. Ter apenas formação está longe de chegar, como se prova ao sabermos, por exemplo, que um dos tratadores a possui.

A responsabilidade de impor o cumprimento da Lei, neste caso de dar orientação técnica ao pessoal, é, em primeira instância, da incumbência do assessor técnico (não se sabe se algum já foi contratado para o Canil da Guarda) e, acima deste, do responsável técnico do Canil: o médico veterinário municipal.

Estas situações já foram denunciadas pela assessora técnica anterior, Eng. Gabriela Lopes, e foram verificadas pela vereadora Dra. Maria de Lourdes Saavedra que as tentou sanar decidindo o afastamento dos tratadores. Resultado? O contrato da primeira não foi renovado. À vereadora foi-lhe retirado o poder de decisão sobre o Canil.

A pergunta que urge e que requer uma explicação clara é a seguinte: porque é que a Lei não está a ser cumprida?

Por: Luísa Queiroz de Campos

Comentários dos nossos leitores
Vitor Mira da Silva vitormiradasilva@sapo.pt
Comentário:
Na minha opinião o Sr. Veterinário comporta-se “abaixo de cão” e alguém com poderes na Autarquia deveria intervir de imediato e radicalmente. Penso que é necessário civilizar alguns seres humanos que lidam com os animais e, este parece ser o caso.
 
victor lamberto vlamberto@gmail.com
Comentário:
E viva Portugal!
 
Artur Atento artur.miguel@hotmail.com
Comentário:
Para além de perguntar por que é que a lei não está a ser cumprida, também a Dª Luísa Queiroz dá conta de que quem denunciou foi despedida e que quem estava a tentar resolver foi afastada. Não teve foi a coragem de dizer, claramente, que a CULPA É DO VALENTE. Sim é ele o presidente, não é verdade? Compreendemos que a senhora se sinta também responsável e tenha vergonha, agora, (tarde demais), por ter participado no “peditório” para essa vergonha dos CINCO vereadores, que só podem trazer mais despotismo e, AINDA, mais atraso para este concelho. Ainda ninguém se esqueceu do seu sebento comentário de apoio aos cinco vereadores, que Valente pedia. A senhora até inventou a existência de um NOVO HOSPITAL na Guarda. Lembra-se, Dª Luísa?
 
Filipa Joana@sapo.pt
Comentário:
Creio que essa dita mulher não terá nada que fazer sem duvida e ainda lhe dão ouvidos……….
 
cristina cristina.vieira@mac.com
Comentário:
A denúncia deste tipo de incivilidades é fundamental se queremos ter um país melhor. Os veterinários deviam ser os primeiros a defender os direitos dos animais, mas há muitos que se comportam como comerciantes de serviços. Vergonhoso.
 
Ana Esteves anapme@hotmail.com
Comentário:
Claro que um jornalzito como o vosso só publica os comentários que vos são “favoraveis”, tenham vergonha e façam um jornalismo isento. Publiquem também os que não são providos de funtamentalismos exagerados, sim porque só algum fundamentalista pode apelidar alguém que tem como profissão zelar pela saúde dos animais e que, em última instância, fazer cumprir a Lei e eutanasiar animais que alguns seres humanos não têm vergonha de abandonar. É contra esses que o vosso jornalzito e alguns dos vossos comentadores deveriam apontar os dedos e insultar.
 
Angelo Rafael Al-Lan@live.com.pt
Comentário:
Ora aqui está o exemplo de uma autarquia e de um autarca que insiste em “enfiar a cabeça debaixo da terra” qual avestruz. Nesta altura, e com a dimensão que este assunto já assumiu, ficaria bem em primeiro lugar uma expressão pública de reprovação pelo que se tem passado há meses (!!!) no Canil Municipal da Guarda; em segundo, a instauração de procedimentos disciplinares e inquéritos, pois estes senhores andam a ser pagos com o nosso dinheiro; em terceiro, a passagem tão aguardada da gestao do Canil a alguém que realmente se preocupe com os animais. Enfim, são os políticos que continuamos a ter nesta cidade! O mínimo que se pode dizer é que reina a incompetência e a irresponsabilidade! Já agora, e a oposição será que tem alguma opinião sobre o assunto, ou andam cá só para ver a caravana passar?! O bem estar e a auto-estima dos munícipes não se mede só por estudos sobre poder de compra e peças culturais, também se vê e se sente neste tipo de coisas!
 
Faria Vidal cf_rodrigues@yahoo.com
Comentário:
Porque não se deslocam às assembleias gerais da câmara e pedem, não,exigem as mudanças!Podem fazê-lo, é já uma realidade por muitas cidades deste país, aqui podem ver o que fazer – http://campanhaesterilizacaoanimal. wordpress.com/ Dª Ana Esteves, o abandono de animais está enraizado na mentalidade de gente pobre de espírito e alma, mentalidades que demoram a ser mudadas, como deve saber, agora um trabalho público, pago pelos nossos impostos deve ser exemplar e acima de tudo neste caso, de grande humanismo e sensibilidade, muitas são as testemunhas que provam o contrário, e cara senhora isto só pode ser para rir…”profissão zelar pela saúde dos animais e que, em última instância, fazer cumprir a Lei e eutanasiar animais “…E como são tratados os animais, sim, que já entram no canil, com o selo de ABATE e portanto são tratados como lixo, até porque quem cuida destes animais enquanto esperam no correr do abate, são os mesmos funcionários que tratam do lixo municipal…para bom entendedor, meia palavras basta!
 
gina ginaandrez@hotmail.com
Comentário:
conheço a engenheira gabriela sei o trabalho que fazia no canil ela dava a vida pelos animais se possivel a culpa e toda e so toda do presidente por esta situaçao
 

Sobre o autor

Leave a Reply