Arquivo

Ninguém disse que era fácil

Opinião

Com o novo mapa parlamentar estou relutante em afirmar que a longevidade do governo formado pela coligação vitoriosa nas eleições de domingo está assegurada. Há no entanto algumas premissas que, conjugadas, me fazem apostar que o projeto de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não vai cair tão cedo.

Em primeiro lugar a inexistência de uma maioria absoluta de direita não implica desde logo que PS, Bloco de Esquerda e CDU formem uma maioria natural de esquerda. Desde logo porque o único que se apresenta com vocação europeísta é o próprio Partido Socialista e os restantes partidos, ciosos da sua essência, não estarão interessados em estabelecer acordos que sejam em si mesmos, assassinos da sua razão de ser. Por outro lado, o PS não tem condições de transportar para o Parlamento uma ação tão radical como as palavras do seu líder durante a campanha. Sob pena de se afundar ainda mais em cenário de eleições legislativas antecipadas e, antes que tal possa acontecer por impedimento constitucional, continuar a perder base de apoio nas eleições presidenciais que se aproximam.

E ainda a procissão vai no adro, leia-se que, ainda só foi divulgada uma sondagem pós-legislativas, e já Marcelo Rebelo de Sousa se apresenta como favorito. Tal é a fragilidade dentro e fora do Largo do Rato, bem como a fragmentação dos candidatos a candidatos da família política socialista que só a emergência de António Guterres, envolto numa previsível vaga sebastiânica de fundo, poderá sanar divisões e aspirar a uma vitória inequívoca na primeira volta. Temos assim uma coligação que, embora vencedora, se verá obrigada a uma permanente negociação e uma oposição que, enredada nas suas próprias circunstâncias, como bem diria Ortega y Gasset, não poderá ceder a impulsos primários. É por isso que, do alto da sua inteligência, o eleitorado, conseguiu ver antes “o jogo” de todos e, ao exercer o direito de voto, fê-lo como se jogasse xadrez. Só não vê o xeque-mate quem não quer.

Por: Madalena Ferreira

* Jornalista da SIC e do “Jornal de Notícias” na Guarda

Sobre o autor

Leave a Reply