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Nem sempre o que parece é

Editorial

1. A Bolsa de Turismo de Lisboa é todos os anos o teatro ansiado por todos os que acreditam que o turismo é uma aposta estratégica de desenvolvimento. Neste contexto, percebe-se o entusiasmo com que alguns falavam, na região, da sua ida à maior feira de turismo do país. E era com enorme expetativa que todos aguardavam o que a CIM Beiras e Serra da Estrela iria promover. Pois bem, a grande dinâmica e as muitas reuniões e viagens em nome da presença da CIM na BTL foi engolida pelo Turismo do Centro. Na verdade, a presença das CIM foi pouco mais do que um amontoado disforme de folhetos sobre um balcão – onde dois funcionários assustadores e altivos, em representação da CBSE, iam distribuindo pelos transeuntes distraídos .

Pior, a Serra da Estrela marcou presença pela ausência e o Turismo do Centro, que mostrou a nova imagem, fomentou um conjunto de trilogias e dinâmicas dominadas pelo litoral – e se até se compreende que a aposta em atrair o público de Lisboa leva a que se sobrevalorizem destinos como o de Fátima, Alcobaça ou Tomar, não se aceita tanta desvalorização da Serra da Estrela e das cidades do interior. Foi por isso que, e bem, as cidades e vilas da região «fizeram pela vida». A BTL não é por definição uma feira para municípios, mas quando a entidade regional de turismo ostraciza o interior e a CIM Beiras e Serra da Estrela não tem imaginação, vocação ou capacidade para promover a região é lógico que sejam as autarquias a ter de desenvolver esse papel – duplicam-se as funções e triplicam-se os custos… Por outro lado, está por provar que a estratégia de ir a uma grande feira distribuir brindes (palavra que no léxico desta gente deu lugar a “merchandising”) e folhetos tenha algum retorno ou sequer que contribua para aumentar os fluxos de visitantes. Uma coisa é certa, o turismo não é a panaceia para o desenvolvimento dos nossos concelhos, mas perante a falta de melhores opções de desenvolvimento económico, é relevante que se tente atrair visitantes que possam contribuir para a sustentação de empreendimentos e projetos turísticos.

2. A última Assembleia Municipal da Guarda ficou marcada pela atitude surpreendente do seu presidente, Fernando Carvalho Rodrigues, que, depois de ter tirado a palavra a Álvaro Amaro, acabaria por abandonar a sessão. O presidente da Câmara Municipal da Guarda de forma recorrente não cumpre os tempos de intervenção e repete-se muitas vezes, mas desta vez Carvalho Rodrigues mostrou-se agastado com a forma e o conteúdo da intervenção de Amaro e ameaçou bater com a porta. Como se fosse pouco, Carvalho Rodrigues também já terá perdido a paciência com as tricas entre deputados e mostrou-o com estrondo.

Fernando Carvalho Rodrigues (que foi colunista deste jornal) é uma personalidade reconhecida no país, tem uma carreira que não depende nem precisa da política e muito menos dos pequenos poderes que ela encerra. É um cientista que gosta de participar na vida da sua comunidade e que neste contexto repetiu participação na intervenção político-partidária, mas cuja experiência parece começar a desagradar-lhe. Compreende-se.

Álvaro Amaro é um político de carreira, gosta de dominar e utiliza a oratória como lhe dá mais jeito, mesmo quando se repete. O presidente da Câmara não gosta de ser contrariado e trata com desdém quem o confronta.

A última Assembleia Municipal pode ter sido apenas um episódio sem relevância ou pode ter sido o principio do fim da aliança entre Amaro e Carvalho Rodrigues. Mas ficou o aviso a Álvaro Amaro: Nem tudo é como ele quer.

Luis Baptista-Martins

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