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Nem Miolos nem Tijolos

Nas últimas autárquicas saiu do argumentário do PSD o estribilho “mais vale miolos que tijolos”. Ouviu-se, por exemplo, em Oeiras e na Guarda. A austeridade acabou em Portugal com o ciclo das obras públicas e, verdade seja dita, muito do que era necessário fazer estava feito há muito. Tínhamos passado já para a obra simplesmente de fachada, de embelezamento das rotundas do ciclo anterior e de construção de pavilhões multiuso perfeitamente dispensáveis.

Seria portanto a inteligência a principal matéria prima do novo ciclo, seria com a argamassa das ideias que sairíamos da crise.

Em boa verdade, queria apenas justificar-se um mandato autárquico sem dinheiro e sem obra, que de ideias realmente notáveis nada se viu ainda. Na Guarda, por exemplo, prepara-se o enterro do novo hospital com o argumento de que o da Covilhã o torna desnecessário. Não importam os milhões já investidos, o facto de haver financiamento comunitário aprovado para a segunda fase e que o IVA que o Estado iria cobrar seria superior ao custo da comparticipação nacional. A “superior inteligência” (é um sarcasmo) de quem passou a mandar não pensou também nos postos de trabalho que se criariam ou iriam manter, nos descontos para a Segurança Social, nas receitas de IRC e IRS e na multiplicação de riqueza que um investimento de cinquenta milhões de euros iria trazer à região. A desistência da segunda fase da construção do novo hospital foi um crime, e iremos ser nós, as suas vítimas, a pagar por ele. O velho Hospital de Sousa Martins continua a apodrecer e o que se fez do novo continua por utilizar, como se fosse mais um multiusos sem utilidade, fruto da vaidade lorpa de um qualquer autarca de meia tigela.

Isto é também resultado da decadência da Guarda e do pouco respeito que merece agora de quem manda. Enquanto a Unidade Local de Saúde se prepara para ser subordinada ao Hospital da Covilhã, e o IPG para se ver transformado num polo da Universidade da Beira Interior, pouco mais nos resta, para consolo da nossa auto-estima, que uma possível reabertura do Hotel de Turismo da Guarda. Porca miséria.

Por: António Ferreira

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