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Negócios ibéricos

Menos que Zero

A segunda maior empresa portuguesa de construção civil foi comprada por uma construtora espanhola. Podia ser apenas mais uma empresa a mudar para mãos castelhanas, mas não é bem assim. A Somague tem crescido graças a uma arrojada política de investimento e é considerada uma referência no seu sector.

Diogo Vaz Guedes, líder da Somague, ainda recentemente exigia a renovação da classe empresarial e o estabelecimento de uma aliança entre os grandes empresários portugueses para resistir às “investidas” do capital estrangeiro. Esta semana deitou a toalha ao ringue e vendeu a sua promissora empresa a uma construtora espanhola.

Poder-se-ia dizer que esta compra de empresas portuguesas é o resultado da globalização e da reduzida dimensão de Portugal face aos nossos vizinhos castelhanos. Mas não é bem assim. Porque, nesse caso, aconteceria o mesmo aos espanhóis em relação à França ou à Alemanha, e isso não se verifica. O que se passa é que os espanhóis defendem os seus interesses a todo o custo. Vejam-se, por exemplo, as estratégias urdidas pelos espanhóis para impedir que o capital estrangeiro controle as empresas espanholas. Quem não se lembra da verdadeira aventura que foi a entrada da EDP na Hidrocantábrico, por exemplo?

Passa-se o mesmo nos concursos internacionais. É muito raro que os concursos públicos espanhóis sejam ganhos por estrangeiros. Será que as empresas castelhanas são mais fortes? Não creio. Ainda recentemente um concurso público, em Espanha, exigia que os concorrentes fossem sócios de uma associação empresarial local há pelo menos 15 anos. Com esta exigência eliminaram todos os concorrentes estrangeiros. Esperteza saloia, é certo, mas parece resultar.

Entretanto, do lado de cá as grandes empresas vão passando para mãos estrangeiras e o número de concursos ganhos por empresas nacionais vai decrescendo a olhos vistos. A consequência é mais desemprego, mais programas de apoio à criação do próprio emprego e mais pequenas empresas unipessoais esmagadoramente ligadas ao sector terciário: cafés, restaurantes, pastelarias, cabeleireiras e lojas dos 300 nascem todos os dias como cogumelos.

Se Governo e empresários não acertarem muito rapidamente as suas estratégias, temo que a situação se agrave a ponto de não haver retorno possível. Mais do que ser um fiel cumpridor de todas as normas europeias, Portugal deve aprender a defender os interesses nacionais, tal como o fazem os restantes parceiros dos Quinze.

Por: João Canavilhas

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