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Negociar a língua e respeito (ou falta dele)

Sinais do Tempo

Acordo ortográfico

Lembrei-me de fazer uma auto-avaliação das minhas potencialidades de adesão ao acordo ortográfico, para tal tentei elaborar um texto que me demorou algum tempo. Quando aprendi as primeiras letras já não se escrevia pharmacia. O Brasil, por um lado, foi assumindo uma série de intromissões linguísticas e, por outro, manteve o português “arcaico” do início do século XX. O acordo ortográfico de 1945 começou a desenhar-se em 1923, tornando-se lei em Portugal, mas não no Brasil, onde não foi ratificado pelo Congresso; e, por isso, os brasileiros continuaram vinculados à ortografia do vocabulário de 1943. Ao longo dos tempos a escrita de Camões e de Fernão Lopes foi-se modificando e é actualmente a terceira língua europeia mais falada no mundo, com variantes africanas, americanas do Norte e do Sul, europeia de França, europeia de Portugal, asiática e sei lá que mais. A língua portuguesa internacionalizada não é apenas a brasileira. O Acordo foi assinado em 1990 por todos os países da CPLP, mas só entraria em vigor “após todos os países depositarem os seus instrumentos de ratificação”. Renegociado mais tarde um pequeno grande pormenor, pois bastaria que três e só três países o ratificassem. Espasme-se o cidadão mais distraído pois o acordo já está em vigor desde Janeiro de 2007, mas apenas no Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Mas ao que tudo indica o Brasil só ratificou para inglês ver. Quanto a Portugal assistiremos a partir de agora a 6 anos de adaptações diversas, que começarão pelos manuais escolares.

Depois há os dicionários electrónicos ou será eletrónicos e os programas informáticos (ou teria sido informácticos?). A Microsoft prefere obviamente que haja apenas uma língua portuguesa escrita, porque quanto à falada, é-lhe indiferente. É importante homogeneizar.

Vejamos, acção versus ação soa a estranho mas no momento de ler é igual, porque já ninguém entoa o “c” antes do “ç”, o mesmo se passa com actuar. Quem usa no português falado aquele empecilho ali colocado para tramar os alunos mais distraídos? Mas diferente é facto e fato, aqui seremos livres de optar, até porque o fato brasileiro é igual ao nosso facto, mas o nosso fato no Brasil é terno. A humidade passa a ser umida e o latim vai criar bolor. Os brasileiros quando escrevem o u após o q colocam o trema para avisar que têm que o ler, deixarão de o fazer.

A ortografia brasileira cede 0,5% enquanto a portuguesa 1,6%.

De fato oje na nossa perspetiva poderemos estar a cometer um erro linguístico, mas pensem que tudo não passa de um ótimo negócio e vão ver que se ão-de abituar a este tipo de ações que mostram um espírito aberto e moderno, embora tenhamos a impressão que não vamos na direção certa. Desde que não me obriguem a chamar aeromoça à hospedeira, trem ao comboio ou pingolim aos matraquilhos cá me abituarei.

Somos um povo de cedências e de brandos costumes, no momento é importante que os brasileiros gostem de nós, a economia assim o exige. Ficaremos a perder por certo. Talvez por isso se resolveu por decreto o que estava pendente há mais de dezoito anos.

Educação, respeito ou autoridade

Assistimos no Youtube e na TV a mais um capítulo de como o telemóvel pode desestabilizar uma aula. O que fazia um telemóvel ligado numa aula? Será comum? Os professores desligam os telemóveis quando entram na sala? Três questões carregadas de ingenuidade. Todos vimos os factos, a professora tirou o dito cujo à aluna e recusou-se a devolvê-lo, mas a aluna não acatou a decisão da professora, empurraram-se, gritaram e no meio de tudo isto outro aluno “obediente”, filmava toda a cena, sem que se tenha ouvido qualquer coisa como “Sôtora” posso filmar?

No meio do ruído o Secretário de Estado veio dizer que o estatuto do aluno irá resolver o problema de falta de autoridade dos professores, mas em contrapartida a Ministra afirmou que não é por haver um código da estrada que deixa de haver acidentes. Em que ficamos? Bom a verdade é que não é com autoridade que se resolvem as questões. A professora no filme divulgado tentou usar a autoridade e até a levou longe de mais, usando da prepotência. Contudo não se deu ao respeito andando ali aos empurrões e a ser empurrada. Há um momento em que se percebe que foi derrotada, devolve-se o telemóvel e utilizam-se os meios de que se dispõe para punir o aluno. A palavra chave é respeito. Ter e dar-se ao respeito. Percebeu-se que a turma não respeitava a professora nem por ela exibiu solidariedade. Os alunos não respeitam a Escola, nem os professores, nem os auxiliares e provavelmente os sentimentos são recíprocos. Os pais não devem ser os melhores amigos dos filhos, mas sim os melhores educadores. O mesmo se passa com os professores, que só têm que ser educadores, nem amigos nem inimigos. Nada disto se ensina, mas aprende-se.

No momento em que tanto se discute a avaliação dos professores porque não discutir também a avaliação dos alunos no sentido da educação e do respeito pelo próximo e já agora avaliem-se também os pais. E as questões são simples: que valores estaremos a transmitir às gerações vindouras? O que pretendemos, autoridade ou simplesmente respeito?

Por: João Santiago Correia

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