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Não o nós

Bilhete Postal

Imagina o mar,

Imagina apenas os perigos dentro dele

E tens aí a ideia que tenho da nossa vida.

A que me chega por ti

Imagina que fujo

Das tropelias ditas,

Dos desencantos,

Das horas gritadas

Das coisas repetidas,

Dos cheiros que canso já.

Eu não saio de ti, mas vou de nós.

Vou para longe das bofetadas

Dos insultos

Do testemunho inocente dos filhos

Da cumplicidade dos vizinhos

Da omissão do médico e da família.

O que me chega de ti é cru

É verde é feio… depois do amor.

O amor morreu na primeira agressão

Que tudo encheu de medo.

O mar agora é só picadas, mordeduras,

Óleo a boiar e latas vazias.

Não tomo mais banho neste tu e eu

Que me afundou tanto.

Já cuidaste de saber se me encanta o álcool e o tabaco?

Já perguntaste se quero o teu banho antes da cama?

Se me incomoda a força das palavras?

Se te tenho algum respeito entre os medos?

Imagina que te fujo e levo os filhos

Imagina que te esqueço e apago

Este amargor de nós.

Morreu um mundo

E encheu-se o rio

Eu, novamente tu

E nenhum nós.

Por: Diogo Cabrita

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