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«Não houve um teste rigoroso de como iria funcionar o sistema de colocação de professores»

Cara a Cara – Entrevista

P-Qual é a posição da Federação das Associações de Pais do distrito da Guarda perante o atribulado início de aulas?

R- Ainda é prematuro apresentar a posição da Federação, porque por causa do atraso na colocação de professores ainda não realizamos a reunião geral, que está agendada para o próximo dia 6 de Outubro. Nessa altura contamos fazer um balanço da situação. Mas pelas queixas que nos têm chegado, o atraso do ano lectivo acarreta vários prejuízos. Primeiro, os alunos têm danos em termos de matéria. A este nível é possível distinguir duas situações, o ensino particular, que abriu “a tempo e horas”, com todos os professores, e os alunos já estão a aprender; e o oficial, que não tem docentes e os alunos ainda estão em casa. Por consequência, há um acréscimo nos ATL’s e programas ocupacionais que não costumam existir nesta época. Para os pais, há um encargo suplementar, pois vão ter pagar estes excessos. Mas há outros casos em que os pais tiveram que tirar dias de férias para tomar conta dos filhos por não terem onde os deixar.

P-O atraso na colocação de professores provocou vários prejuízos, quem foram os mais prejudicados?

R- Toda a comunidade escolar vai sair lesada deste processo. Mas há o caso específico dos alunos que frequentam o 12º ano e que no final do ano lectivo vão ter que fazer os exames nacionais. Comparativamente aos colegas do ensino privado, saem penalizados, pois não dispõem do mesmo tempo para aprender e estudar. A solução passa pelo prolongamento do ano lectivo, para completar matéria, o que implicaria de certeza a mudança de calendário dos exames. Mesmo assim, uns vão dar a matéria à pressa e outros vão ter tempo para a rever calmamente. No final vão concorrer numa situação de muita desigualdade.

P-Sendo professora já assistiu a muitas colocações. O que é que acha que falhou este ano?

R- A falha passou pelo facto de se fazer um sistema informático completo de concursos sem um teste muito rigoroso de como iria funcionar. Não sei se foi feito…Mas não parece… Já houve várias formas de colocar professores, inclusivamente a manual e a nível local. Contudo, considero que a colocação informática é necessária e será a situação ideal, até porque há uma grande mobilidade dos professores. Mas deve ser testada numa próxima vez.

P – A Confederação de Pais vai tomar algumas medidas, tal como colocar bandeiras pretas como forma de luto. Concorda?

R – Penso que há outras medidas. Acima de tudo temos que pensar que a educação não é só problema do Ministério ou de outras entidades, porque começa nos pais e abarca toda a sociedade de uma maneira transversal. Por isso, o hastear da bandeira é só um simbolismo. O mais importante é estarmos atentos e sabermos como apoiar os nossos filhos, que andam completamente à deriva.

P – As escolas no distrito da Guarda “mal ou bem” abriram. Concorda com o facto de algumas estarem abertas e outras encerradas?

R – Se uma escola tem condições para estar aberta a cem por cento, sem horários fictícios e com a garantia de que os professores podem laborar, pois poderá estar aberta. Mas isso só acontece nas escolas do ensino básico. No entanto, na maioria dos casos, as escolas só dispõe de 50 por cento dos docentes e algumas também não têm auxiliares de educação, por isso, é preferível que essas tenham as portas fechadas. Além disso, a nível do agrupamento seria correcto que as escolas abrissem todas ao mesmo tempo.

P – Os encarregados de educação também têm responsabilidades. Acha que estão a cumprir com o seu papel?

R – Numa altura em que se comemora o Xº aniversário do Ano Internacional da Família, acho que está a ser uma celebração também atribulada. Esta situação levantou vários problemas de índole familiar. Mas a educação não pode estar sujeita a mudanças de Governo ou ministérios, tem que haver um pacto de estabilidade entre os diferentes parceiros, nomeadamente a própria sociedade civil. Por exemplo, podia haver agora empresas que fizessem programas para os tempos livres dos nossos educandos.

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