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Editorial

1. A queda estrondosa do Espírito Santo (o Grupo que está insolvente ou o Banco que foi eliminado depois de 140 anos de sucesso) vai ter um estrepitoso efeito cascata na economia portuguesa. Muito para além dos interesses da família, das muitas empresas do grupo e dos milhares de trabalhadores, as relações comerciais e financeiras vão desmoronar e com elas muitas empresas e pessoas que, diretamente, nada tinham a ver com o GES ou o BES vão sofrer as consequências.

O BES apresentou prejuízos de milhares de milhões euros (só no primeiro semestre de 2014 quase quatro mil milhões) e as empresas do grupo estão insolventes – ou seja, nem num lado, nem no outro há dinheiro para fazer frente aos compromissos (diz-se que o BES chegou a estar exposto em 10 mil milhões, mas não se sabe em concreto o valor do buraco).

Perante isto, ou havia intervenção para evitar o fecho do banco ou se deixava cair com consequências dramáticas para o país. Salvou-se o banco e deixou-se o grupo para os donos (os seus acionistas, grandes e pequenos, individuais ou institucionais) – para evitar o risco sistémico, ou seja, as nefastas consequências do fim de um banco de grande dimensão no sistema financeiro português e mesmo europeu, mas foi necessário emprestar-lhe quase quatro mil milhões para ele não falir.

Estranhamente vai por aí um queixume em nome dos pequenos acionistas – como disse Jerónimo de Sousa, quem comprou cinco mil euros de ações do BES nunca se sentou na cadeira de uma assembleia geral do banco ou do grupo e por isso não tem responsabilidades na gestão e não pode ficar sem nada. Este choradinho vai da posição à oposição, e não há comentador que se preze que não o subscreva. Compreende-se a narrativa, mas é inaceitável. Investir em aplicações financeira não é poupança; comprar ações é apostar no sucesso de um produto, de um fundo, de uma empresa, e, por muito que nos garantam o sucesso da aposta, as mais-valias não são um dado adquirido. Comprar ações encerra, em si mesmo, uma opção de risco, e ganha-se ou perde-se – é a vida!

2. Quando a Sonae lançou uma OPA sobre a PT (2007) criou-se em Portugal um verdadeiro movimento contra a oferta do grupo liderado por Belmiro de Azevedo. Os sindicatos brandiram todo o género de argumentos contra as intenções do grupo nortenho. No “Avante” lia-se que esta era uma OPA contra os interesses de Portugal (www.avante.pt/pt/1682/temas/13066/) e a administração de Henrique Granadeiro e Zeinal Bava considerou-a hostil. A Comissão de Trabalhadores considerou Belmiro e Paulo Azevedo inimigos dos trabalhadores. E emergiu Joe Berardo como capitalista amigo dos trabalhadores e dos sindicatos que, enquanto acionista, votou contra a venda da PT à Sonae… E, por último, José Sócrates: deu um ar de sua graça (ou desgraça!) usando a “golden share” que o Estado detinha (7,02 por cento) para impedir que a Sonae comprasse a maior empresa portuguesa. Escrevi então que «não se compreende a razão de tantos se juntaram contra um grupo português», a Sonae, «para “salvar” a PT». Afinal, não a salvaram: mataram-na! Granadeiro, Zeinal, Sócrates, Berardo, a Comissão de Trabalhadores, os sindicatos e “tutti quanti” mataram a PT – ganharam em 2007, mas com essa vitória entregaram o futuro da empresa a um grupo de administradores de grande currículo mas que matou a PT – a maior empresa portuguesa, mas também a que mais investia em I&D, agora tudo vai passar para o domínio dos brasileiros. Deviam ser todos presos!

Luis Baptista-Martins

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