P – Qual é o objectivo que levou à organização das primeiras Jornadas de Voluntariado da Cova da Beira?
R – Um dos objectivos foi a comemoração do Ano Europeu do Voluntariado, que a União Europeia decretou como promoção de uma cidadania activa. Entretanto, o voluntariado da Liga dos Amigos do Centro Hospitalar Cova da Beira decidiu fazer estas jornadas também porque ainda não tinha sido feito nada nesta área com este cariz mais científico e pedagógico. Achámos que seria a altura oportuna de podermos lançar estas primeiras jornadas.
P – A quem se destinam?
R – Destinam-se essencialmente a voluntários. Tentámos não nos concentrar apenas no voluntariado na área da saúde e quisemos abarcar todas as temáticas que estão relacionadas com o assunto, como o voluntariado como acção social, a promoção para uma cidadania ou no sector dos idosos. Por isso, destina-se a todos os voluntários da nossa comunidade e depois à população em geral, tendo em conta que todos podemos ser voluntários no dia-a-dia. Em simultâneo com as Jornadas, vamos fazer a feira de associações de voluntariado da Cova da Beira e fiquei até um pouco admirado ao encontrar cerca de duas dezenas de instituições que desenvolvem voluntariado na região.
P – O tema das jornadas é “Voluntariado: um serviço de afectos”. A demonstração de afectos é um ponto fulcral do voluntariado?
R – Sem dúvida. Os voluntários têm de ser dotados de capacidade formativa para poderem intervir nas suas áreas específicas, mas a base do voluntariado está, sem dúvida, nos afectos e no carinho que é dado aos outros, tendo em conta que ser voluntário é sair de si próprio para se dedicar aos outros.
P – Numa conjuntura de crise, como está o voluntariado no CHCB?
R – O nosso voluntariado está muito bem. Até temos vários projectos em curso para este ano e, tendo em conta a quase centena de voluntários que temos no CHCB, temos de dizer que não estamos num período de crise em termos de voluntariado. Claro que talvez noutras áreas estes tempos de crise se sintam mais em termos de cidadania a participação das pessoas que têm apetência para esta área, talvez mais na vertente da acção social.
P – Considera que a generalidade das pessoas é egoísta?
R – Na generalidade, podemos dizer que estamos numa era muito mais tecnicista e materialista e não tão direccionada para estas vertentes do voluntariado e da solidariedade. Além da crise económica que estamos a atravessar, estamos também com uma crise de valores e isso é bem evidente. Existe mais tecnicismo e materialismo, mas isso contrapõe-se com todo o trabalho que é feito por este tipo de organizações. Nós temos tido aqui uma experiência positiva, já que temos uma heterogeneidade em termos de nível etário. Temos voluntários desde os 19 anos até aos 80 e muitos, o que vem contrariar aquela ideia de que o voluntariado apenas é exercido por pessoas já desocupadas e muito associadas por vezes a algumas correntes ideológicas. Temos muitos estudantes universitários e pessoas que ainda estão em idade activa e que exercem a sua profissão e no final do dia ainda vêm aqui fazer voluntariado, o que é de louvar. Normalmente existe a ideia de que o voluntariado é muito a “caridadezinha” mas não é disso que se trata.