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«Não é política do IEP fazer parques de estacionamento na Serra da Estrela»

Cara a Cara – Entrevista

P – Na última semana o forte nevão provocou o “caos” nas estradas da Serra da Estrela. Em sua opinião a que é que se deve esta situação?

R – “Caos” não é a palavra que se adeqúe porque, a partir do momento em que foi possível colocar as viaturas numa única fila em direcção à saída, a Serra foi evacuada em menos de duas horas. O problema foi que caiu uma tempestade de neve de cerca de meia-hora que apanhou toda a gente desprevenida. O Centro de Limpeza de Neve tinha fechado o troço que liga a Lagoa Comprida à Torre, caso contrário poderia ter sido muito mau, pois o troço entre o Sabugueiro e a Lagoa Comprida tinha tráfego condicionado, com uma placa a recomendar o uso de correntes. O que se passou foi, nomeadamente, que alguns autocarros subiram porque as pessoas alegaram que viajaram muitos quilómetros e que queriam ver neve. Com alguma condescendência, as autoridades no local deixaram subir os autocarros que depois patinaram e atravessaram-se na estrada, fazendo com que os três limpa-neves que chegámos a ter no local não servissem para nada porque pura e simplesmente não podiam trabalhar. Depois de criada uma via de acesso para podermos trabalhar, o trânsito foi escoado rapidamente. Dadas as circunstâncias, conseguimos limpar a estrada num reduzido espaço de tempo.

P – Depreende-se das suas palavras que, a juntar à neve, também houve uma certa falta de cuidado por parte dos automobilistas?

R – Aqueles acontecimentos ficaram a dever-se exclusivamente à falta de cuidado dos automobilistas, porque se tivessem respeitado a sinalização que estava na estrada e tivessem subido com correntes de neve nenhum deles teria tido problemas em descer. Por outro lado, viveram-se ainda a situações complicadas. Vi uma pessoa a descer com o carro desengatado e foi complicado convencê-lo de que se engrenasse em primeira iria muito mais seguro. Para além dos problemas causados pelos engarrafamentos, houve uma série de outras questões laterais que foram difíceis de resolver. Sublinho que não houve um único acidente nem feridos. De uma maneira geral, as pessoas estavam calmas e sentiam-se seguras porque viam toda a gente pronta para ajudar.

P – Em certas zonas é quase impossível inverter o sentido de marcha. Há alguma solução prevista?

R – Sim. Já no Verão passado pavimentámos, junto às pistas de esqui, uma zona que permite a inversão de marcha e está previsto arranjar uma área idêntica, para já, próximo da Lagoa Comprida. Naturalmente que iremos estudar a possibilidade de fazer o mesmo noutros locais.

P – E outras soluções para evitar que situações de confusão ocorram na Serra?

R – Quando falamos em situações excepcionais como esta, nunca as podemos prever porque quando o prevemos fechamos a estrada. Outra solução é, em coordenação com a GNR, como temos feito, só permitir o acesso a viaturas com corrente e, por outro lado, permitir apenas que esteja um número de carros limitado na Serra. Para isso já foram colocados dois contadores de tráfego nos dois extremos – Lagoa Comprida e Piornos – mas estranhamente um deles foi vandalizado e partido. A ideia dos contadores de tráfego era permitir informar a GNR do número de viaturas que estavam na Serra e dizer que a partir de determinado ponto não pode subir mais nenhuma porque a estrada não tem capacidade para o suportar. Vamos já mandar substituir esse contador.

P –É então adepto de uma limitação do número de veículos ao maciço central?

R – Em casos extremos, sim.

P – A Câmara de Seia e a Turistrela exigem melhores condições de acesso, nomeadamente o alargamento da via. Até que ponto isso é possível na Serra que é uma área protegida?

R – O que advogo é que dificilmente se chegará à Torre durante alguns dias por estrada, porque teremos sempre nevões, mas mais complicado que isso é o vento que se faz sentir. Entendo também que as pessoas têm o direito de querer lá chegar e, do meu ponto de vista, a única solução é criar um modo de transporte alternativo ao carro. Por isso defendo é que o projecto da tele-cabine da Junta de Freguesia de Alvoco da Serra tenha pernas para andar. Quanto ao alargamento da via, estamos num parque natural e todos os impactos têm que ser muito bem ponderados.

P – Como está o projecto de construção de vários parques de estacionamento ao longo da Serra da Estrela?

R – O IEP não faz parques de estacionamento porque não é a sua política, já que se entende que quem tem que os fazer é quem sente essa necessidade. Por exemplo, nas pistas da Torre será a Turistrela quem terá que os fazer.

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