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«Não ao abate das escolas»

Ministra da Educação visitou a Guarda e foi confrontada com os protestos de uma dúzia de professores e dirigentes do SPRC

«Não ao abate de escolas» ou «Mentirosos» gritaram, na última sexta-feira, uma dúzia de professores, debaixo de chuva, à porta do Governo Civil da Guarda, enquanto a ministra da Educação reunia com autarcas e presidentes dos conselhos executivos dos agrupamentos do distrito para delinear estratégias para o próximo ano lectivo.

Maria de Lurdes Rodrigues, acompanhada pelo secretário de Estado da Educação, deslocou-se à Guarda para uma reunião de trabalho sobre “Política Educativa para o 1º Ciclo do ensino Básico”. No final, em declarações aos jornalistas, afirmou que o encerramento de escolas traduz-se num objectivo «qualitativo», assumindo a garantia de «melhores condições» para as crianças e suas famílias. A ministra assegurou ainda que «não houve um autarca que tivesse manifestado desacordo» em relação àquela política. Pelo contrário, «houve um sublinhar de convergências nos objectivos», destacou, acrescentando que «agora é ultrapassar os obstáculos e garantir as melhores condições para as crianças que vão ser deslocadas». Por isso, a governante está confiante que o próximo ano lectivo «vai arrancar sem sobressaltos». Quanto ao número de escolas que vão encerrar no distrito, a ministra limitou-se a afirmar que «estão sinalizadas 1.500 escolas no país, mas ainda não se pode dizer quantas vão fechar. É um assunto que está a ser analisado com as autarquias e as Direcções Regionais de Educação».

Segundo Maria de Lurdes Rodrigues, tratou-se de uma reunião «muito tranquila», centrada nos problemas que as autarquias e os agrupamentos sentem. Quanto aos protestos, «é uma mera contestação, mas não tem que ver com estas matérias», assegurou, dizendo que ainda há pouco tempo reuniu com a CGTP e a Fenprof. «Desse encontro não resultaram dúvidas», garante. O fecho de escolas está previsto desde 1984, mas, passados estes anos, «nunca houve uma política decisiva de encerramento, estamos a fazê-lo pela primeira vez», sublinhou a ministra, dizendo que «se nunca se concretizou é porque o problema é difícil». Quem não concorda com este reordenamento da rede escolar são os professores que, apesar do mau tempo, não arredaram pé e protestaram contra «o abate das escolas que contribui para a desertificação do interior», disse Isabel Pires, dirigente do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), sustentando que «não podemos deixar que passe em vão toda esta má fé». Segundo as contas do sindicato, no distrito da Guarda deverão encerrar 132 escolas dos 14 concelhos: «São demasiadas para um meio tão pequeno e desertificado como o nosso», garante a dirigente sindical, para quem o problema não é apenas o seu fecho, mas a forma «cega e indiscriminada» como se está a processar, «sem que estejam garantidas boas condições de transporte e acolhimento das crianças».

Já a fraca mobilização ficou a dever-se às péssimas condições metereológicas, porque «até havia alunos, que vieram do Baraçal, mas foram aconselhados a não sair por causa da chuva», justifica.

A visita foi ainda marcada por um incidente que envolveu um professor da escola do 1.º Ciclo de Maçal do Chão, no concelho de Celorico da Beira, que está na “lista negra”. Eduardo Espírito Santo interpelou a ministra, que falava aos jornalistas, dizendo que a sua escola, com sete alunos, não pode fechar, pois «é um caso de sucesso e tem todas as condições para continuar a funcionar».

Patrícia Correia

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