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«Não acho normal qualquer intromissão no direito de manifestação»

José Sócrates não está «convencido» de que a PSP tenha agido com a intenção de exercer pressão sobre o Sindicato de Professores

No regresso à Escola Secundária Frei Heitor Pinto, que frequentou até ao sétimo ano, José Sócrates garantiu «não estar convencido» de que tenha havido «intromissão no direito de manifestação» na polémica “visita” de dois agentes da PSP à delegação do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC) na véspera da sua vinda à Covilhã. O primeiro-ministro foi recebido, na última terça-feira, por entre aplausos e apupos de cerca de duas centenas de manifestantes que integraram um cordão humano promovido pela União de Sindicatos de Castelo Branco em protesto contra as políticas do Governo.

Lá dentro, José Sócrates deu uma “aula” a vários alunos da Frei Heitor Pinto sobre a União Europeia, no âmbito da iniciativa “Regresso à Escola”, levada a cabo pela Comissão Europeia, tendo ainda aproveitado para rever e cumprimentar “velhos amigos” dos seus tempos de estudante. Confrontado com os protestos, o primeiro-ministro não lhes atribuiu grande importância: «É assim a festa da democracia. É muito positivo. Há quem proteste e há quem aplauda», constatou. Por outro lado, manifestou um «grande contentamento» por regressar à escola que frequentou e por «rever velhos amigos e colegas». Em relação à visita de dois agentes da PSP da Covilhã à delegação do SPRC, o primeiro-ministro frisou que o Ministério da Administração Interna já tem a decorrer um processo de averiguações e que, até haver conclusões, «temos que considerar as duas posições», sendo que a da polícia é de que «pretendeu organizar a manifestação e fazer os possíveis para que tudo corresse bem», indicou. «Antes de fazermos juízos, devemos esperar pelas conclusões do processo de averiguações. Não acho normal que haja qualquer intromissão no direito de manifestação, mas não estou convencido de que tenha sido isso que se passou», reforçou.

Sindicato «nunca» tinha sido visitado na véspera de uma iniciativa de protesto

Quem não tem dúvidas do que se passou é Mário Nogueira, presidente do SPRC e membro do secretariado da FENPROF, que resumiu a situação: «Cerca das 14h30 de segunda-feira, dois agentes da PSP à civil entraram nas instalações e procuraram saber junto do único funcionário que se encontrava no Sindicato o que estávamos a pensar fazer na terça-feira. Levaram dois documentos, um que era o cartaz de divulgação do cordão humano e outro para ser distribuído», relatou. O dirigente sindical ironizou ainda com as afirmações proferidas pela Governadora Civil de Castelo Branco, que terá dito que «aquilo que se passara fora tudo normal». É que, de acordo com Mário Nogueira, se Alzira Serrasqueiro «acha que normalidade é não ter sido ninguém agredido, nem nada destruído, é verdade que nada disso aconteceu», gracejou. Neste sentido, realçou que a visita ao sindicato é que constitui uma «anormalidade» que «não faz nenhum sentido» e uma «inovação», uma vez que nos 25 anos que o Sindicato tem «nunca tinha sido visitado na véspera de uma iniciativa de protesto junto do primeiro-ministro. Há aqui uma responsabilidade política do Governo», apontou. Mostrando o seu descontentamento com este caso, a direcção do SPRC decidiu apresentar queixa ao Presidente da República, à Assembleia da República, à Provedoria de Justiça e à Procuradoria-Geral da República.

Em relação ao motivo pelo qual veio à Covilhã, na sua palestra feita num tom descontraído, José Sócrates considerou que a “Europa” «é um projecto político onde a realidade ultrapassou o sonho» e que «serve como referência para muitos espaços políticos no Mundo». Realçando que «este espaço de liberdade é hoje absolutamente fundamental», relembrou os três objectivos principais que a presidência portuguesa quer alcançar: a cimeira Europa-Brasil, este já concretizado, a constituição de um novo tratado europeu e a cimeira Europa- África. Depois de cerca de 20 minutos de aula, o primeiro-ministro foi confrontado, durante perto de mais 40 minutos, com várias questões colocadas pelos alunos, a quem tratou por “tu” e deu um conselho: «O melhor investimento que podemos fazer em nós próprios é adquirir formação, estudando», enalteceu.

Ricardo Cordeiro

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