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Nada se fez pela recuperação da Paulo Rato

«O entendimento entre o principal interessado na compra não correu da melhor forma». Não correu nem podia correr. Nada se fez pela recuperação da Álvaro Paulo Rato. Todos os passos dados foram no sentido de entregar a empresa ao cliente Amândio Saraiva. Bastará perguntar a qualquer trabalhador se, após Dezembro de 2003, ou mesmo antes dessa data, teve alguma dúvida quanto ao futuro patrão.

Depois da entrega do Processo de Recuperação, a empresa trabalhou durante 18 meses, tempo usado para que Amândio Saraiva se apoderasse de tudo. Praticamente tudo funcionava na A. Saraiva, Lda., desde a contabilidade, serviços gerais de escritório, compras e contactos com fornecedores. Um simples rolo de papel higiénico era solicitado à telefonista de A. Saiarva, Lda. Jamais se tentou um novo cliente ou se fez algo para que se aumentasse o volume de serviço… Não era isso que interessava. Facturava-se praticamente só ao cliente Amândio Saraiva. Para manter os trabalhadores em desespero e em permanente dúvida quanto ao futuro, pagava-se-lhes o salário perto do dia 15 do mês seguinte e para tal todos os meses se enviava um aviso de marcação de greve.

O senhor gestor judicial ainda passava a mensagem de que Amândio Saraiva era um “santo” por pagar o salário. Em todas as empresas se pagam os salários com as produções de mercadorias ou serviços. No último mês, o salário foi usado como chantagem: «Como não aceitam a proposta do sr. Amândio Saraiva este mês não se paga e o dinheiro é para a Segurança Social», avisaram. Importará, portanto, saber em que situação estava a dívida da empresa à Segurança Social no final de Novembro de 2003 e em Junho de 2005. Também convinha conhecer as contas correntes dos vários credores da empresa. «Surgiu então um interessado que, por sinal, era o nosso maior cliente…», e por acaso o nosso maior credor. Esse interessado usou e dispôs da empresa a seu bel-prazer durante 15 dias. Se estava realmente interessado e financeiramente preparado para quê esperar 18 meses? Em benefício de quem?

«Dos 57 funcionários iniciais Victor Simões dispensou logo dois». Como assim? A empresa entregou o processo de recuperação em Dezembro de 2003, o dr. Victor Simões apareceu em Março de 2004, solicitando de imediato a lista do pessoal com data de admissão, idade, salário, etc. Suspendeu os dois trabalhadores do escritório a partir de Maio, sabendo que ia fechar no mês seguinte.

«Era o único mês em atraso, refere aquele operário» (operário que é responsável técnico). Os trabalhadores não continuaram a trabalhar, a produzir, não davam origem a facturas que o senhor Gerente tinha que pagar? Só trabalhavam para ele e às suas ordens. Ou não?

«São principalmente os pequenos fabricantes da Covilhã que vão perder muito com o encerramento da Álvaro Paulo Rato». É verdade, mas tanto fazia encerrar como não. Não querem perguntar aos clientes activos à data da apresentação no tribunal o que lhes aconteceu após a entrada da nova gerência? Por fim, a culpa é da burocracia, do Governo, do IAPMEI e das restantes entidades… Claro. O Sr. Amândio Saraiva estava interessado. Em quê? Como? Em que condições?

Graziela Soares Dias Jota Cosme e João de Jesus Brás, ex-funcionários da “Paulo Rato”, Covilhã

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