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Nada de novo…

Editorial

1. O Partido Socialista é “o partido” do regime, é a referência da transição para a Democracia, é o suporte do sistema vigente depois do 25 de Abril, é a força política decisiva e, juntamente com o PSD, a organização política predominante em Portugal. Por tudo isso (e muito mais), o estado colérico em que as duas metades (desavindas) do PS andam é perturbador. Precisamos do PS e ele está ausente!

A disputa “inventada” pelo atual secretário-geral e pelo seu adversário é excessivamente longa e com consequências pouco edificantes para os próprios, para o PS e para o sistema partidário. Ouvem-se disparates e despautérios, quando queríamos ouvir argumentos e soluções para o país; observa-se o bota-abaixo em vez do debate de ideias; enaltecem-se as fraquezas, quando se deviam elevar as qualidades e as capacidades; recorrem aos ataques soezes e vis, em vez de descortinarmos elevação, camaradagem e civilidade; procuram-se erros do adversário, quando queríamos perceber como mudar de rumo.

Num tempo em que Portugal necessita de políticas e políticos que façam a diferença e conduzam o país para um novo tempo de crescimento e prosperidade, de ambição e desenvolvimento, o PS entrega-se a uma luta intestina de consequências imprevisíveis.

Como há 40 anos, o país precisa de um PS agregado e forte e não um partido dividido. No próximo ano, com a aproximação de eleições e a probabilidade de vitória, as diferenças e as rivalidades darão lugar à união – porque o poder motiva e une – mas, entretanto, perdeu-se tempo que devia ser dedicado à reflexão sobre como chegámos aqui e como podemos sair do atoleiro em que mergulhámos. E porque razão os partidos e este sistema falharam tão rotundamente.

2. No rescaldo das eleições europeias escrevi aqui que «a vitória do PS é uma vitória amarga» pois facilmente se percebia que o resultado estava muito aquém do necessário para um partido que quer chegar à maioria em 2015 e concluí o óbvio: «O próximo primeiro-ministro será António Costa» quando ainda António José Seguro andava a apanhar as canas e a cantar a «vitória de Pirro». No caminho, entretanto, António Costa foi obrigado a expor-se, a mostrar ao que vem, a defender uma solução para enfrentarmos a crise e para resolver os problemas do défice… e afinal, por omissão ou inépcia, não apresenta soluções, não se afirma como alternativa. E acaba por ser Seguro a apresentar ideias e propostas para o país. Os debates irão confirmar que a “urbanidade” e mundividência de Costa dão-lhe brilho e fulgor, mas terá de mostrar mais do que isso se quer ganhar a longa corrida até São Bento, Seguro ainda pode virar o jogo.

3. A visita de António José Seguro a Figueira de Castelo Rodrigo não podia ser em pior momento: a Câmara, socialista, não optou pela internalização dos 34 funcionários da empresa municipal que, assim, foram para o desemprego. Ou seja, contrariando o que o secretário-geral do PS vai apregoando, a administração pública tem de reduzir despesa, e a Câmara de Figueira despediu os trabalhadores.

Instado a falar sobre o assunto, Seguro fugiu à questão e acabou por sugerir soluções inapropriadas, como a de invetivar as pessoas a regressarem ao campo e à agricultura. Depois de Passos Coelho nos mandar emigrar, Seguro manda-nos cultivar… a terra abandonada e pouco fértil ou árida.

Luis Baptista-Martins

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