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Na terra dos Papagaios

«Adestrados, os papagaios repetem e repetem as cantilenas. Não pensam. São incapazes de questionar as coisas (…) É por isso que vivemos numa sociedade acrítica, acomodada, apalermada. É por isso que de novo se instalou o medo (…) “Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer”. O mesmo se pode dizer dos papagaios».

Faltam-lhes as ideias mas nunca lhes faltam as palavras. Falam por falar. Porque gostam de falar. Ou porque alguém… os mandou falar. É uma terra de papagaios – é verdade que falam (uns até escrevem) mas só falam (e escrevem) o que lhes ensinam. Não mais que isso.

Adestrados, os papagaios repetem e repetem as cantilenas. Não pensam. São incapazes de questionar as coisas. São incapazes de proferir uma palavra que não esteja no léxico que lhes foi ensinado. Ficam orgulhosos de saberem palrar e de uma festinha nas penas.

É por isso que vivemos numa sociedade acrítica, acomodada, apalermada. É por isso que de novo se instalou o medo, e na fotografia pública só é possível ver uns vultos a preto e branco, encolhidos e acéfalos.

Quando a gaiola está aberta, os papagaios olham para rua a medo. Chegam à conclusão que já não sabem voar. E não se odeiam por isso (que era já um patamar muito alto de evolução). Odeiam sim, quem está lá fora. Mas nem raiva sabem exprimir sozinhos. Até para isso, precisam que alguém lhes ensine o que dizer.

Lamentavelmente, o que se esquecem é sempre de pedir, que os ensinem a voar…Deve ser triste ser papagaio!

A olhar para a passarada, dei por mim a reler Fernão Capelo Gaivota: «Todo o vosso corpo, desde a ponta de uma asa até à ponta de outra asa – costumava dizer Fernão – não é mais do que o vosso próprio pensamento. Quebrem as correntes do pensamento e conseguirão quebrar as correntes do corpo». O livro de Richard Bach fala de uma gaivota que quer voar mais longe, mais alto, que quer atingir a sua perfeição, superar-se a si própria. Que está disposta a quebrar as suas amarras e tentar ajudar o seu bando. “Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre outras aves” que o olhavam de soslaio. “Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer». O mesmo se pode dizer dos papagaios.

Por: João Morgado *

* www.kaminhos.com

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