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Na raia, a tradição dos touros mantém-se

Lageosa da Raia abriu mais uma época de capeias raianas

Agosto é, por excelência, o mês das festas raianas. Os encerros e as capeias com forcão fazem jus à tradição, ano após ano. Empenhadas e verdadeiramente aficionadas, as gentes da raia marcam lugar nas praças improvisadas de cada uma das aldeias raianas que recebem uma das tradições mais entusiastas da região que se renova todos os anos.

Este fim-de-semana, coube, mais uma vez, à Lageosa da Raia inaugurar a tradição. O espectáculo estava marcado para as cinco da tarde do passado sábado. No entanto, para espanto de quem vem de fora, e símbolo da “aficcíon” que se vive por aquelas terras próximas de Espanha, as bancadas instauradas na praça da aldeia, estavam já cheias ainda não batiam as três e meia. Espanhóis, emigrantes, habitantes da terra e de outras aldeias próximas esperavam o início da Capeia, alheios ao calor abrasador que se fazia sentir e verdadeiramente ansiosos por conseguir o melhor lugar para assistir ao espectáculo.

Por costume antigo, os touros vinham de terras vizinhas do outro lado da fronteira e eram conduzidos ao longo dos campos por cavaleiros raianos e espanhóis até à praça, no tradicional Encerro do gado. Porém, nos últimos anos, surgiu uma Ganadaria em Forcalhos, aldeia próxima, que tem constituído uma alternativa mais eficiente, dada a proximidade geográfica. No entanto, pouco mais tem mudado ao longo dos anos. Na verdade, a origem da capeia perde-se na memória dos “arraianos” e mesmo os mais antigos conviveram desde sempre com esta tradição. As praças são improvisadas, recorrendo-se a carros de bois carregados com troncos de árvores, que estabelecem uma sólida barreira entre o touro e os espectadores.

A entrada em cena do típico Forcão, que constitui, de resto, a grande originalidade desta “festa brava”, anuncia que o espectáculo está para começar em breve. Segue-se o “Pedido de Praça”, liderado pelos mordomos (nomeados todos os anos pela gente da aldeia), que passeiam pela praça montados a cavalo e vestidos a rigor. Minutos mais tarde, inicia-se o espectáculo. Verdadeiramente entusiasmado, o público vai vibrando com as constantes investidas do touro, enquanto troca impressões e lança gritos de apoio para os corajosos que se arriscam na praça. Teresa Martinho, da Aldeia Nova da Ponte contava, do alto dos seus 64 anos, que, antigamente, as raparigas namoriscavam «os rapazes mais valentes» que, destemidamente, enfrentavam o touro. Mesmo ao lado, Aníbal Miranda desabafava, visivelmente orgulhoso, que o touro que agora entrava em praça era «descendente» de um animal seu. A virilidade e a força da besta na praça constitui, afinal, motivo de orgulho para os criadores. Perguntámos como reagem os aficionados aos acidentes que, por vezes, ali acontecem. Com uma simplicidade única e típica das gentes da raia, Lurdes Pires, residente na Lageosa (e que se apresentou, de imediato, e com alguma vaidade, como «tia de um dos mordomos deste ano»), explica que «às vezes acontece, mas também faz parte da festa, desde que ninguém se magoe a sério». Para a alegria dos raianos, as Capeias continuam até ao fim deste mês. Na próxima segunda-feira, os aficionados rumam a Aldeia do Bispo e a Aldeia da Ponte. Também nesta última aldeia, mas no dia 20, vai decorrer o tradicional concurso “Ó Forcão”. A ronda das Capeias continua dia 22 em Forcalhos, 23 em Foios e, por fim, a 25 em Aldeia Velha.

Rosa Ramos

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