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Na Linha

Corta!

No ano passado foi Ray Charles o visado. Através do certinho Ray que chegou mesmo a valer um Óscar de Melhor Actor a Jamie Foxx. Este ano calhou em sorte Johnny Cash, onde parte da sua vida é retratada em Walk the Line, numa realização de James Mangold já premiada com três Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme, na categoria de musical ou comédia e com cinco nomeações para as estatuetas douradas a distribuir já no próximo dia 5 de Março.

Filmes como Walk the Line, tal como já acontecia com o atrás referido Ray, e com muitos outros antes, seguem uma estrutura que parece sempre a mesma. É até possível que o espectador comece a pensar que os artistas, pelos exemplos retratados, têm todos vidas iguais, com problemas em tudo semelhantes. Pelos biopics de músicos que nos são dados ver, os cantores acabam sempre por ter problemas com drogas que, se por um lado quase lhes destroem as carreiras, por outro são inesgotáveis fontes de inspiração, muitas das vezes local de nascimento das mais geniais obras de arte; por outro lado, as mulheres, sempre presentes, acabam constantemente por se ficar num papel secundário, onde acabam por ser sempre as amantes a marcar o ritmo e vida dos retratados. Drogas, mulheres e amantes. O triângulo fundamental neste género de filme. Depois do argumento a ser filmado ter estes três elementos, tudo parece fácil. É só misturar e ver o que dá. Por vezes acontecem surpresas e os resultados são bem superiores ao esperado numa situação deste tipo: ainda muita gente coloca o filme de Oliver Stone sobre os Doors e o seu mítico líder Jim Morrison como exemplo a seguir.

Johnny Cash, recentemente falecido, foi um dos maiores cantores americanos de todos os tempos. Dono de uma poderosa voz, o cantor de negro teve em Folsom Prison Blues um dos seus mais reconhecidos trabalhos. Disco gravado ao vivo numa prisão, é um marco na sua longa discografia. O filme de Mangold começa e acaba na prisão que deu origem a esse disco. Pelo meio ficamos a conhecer alguns dos mais marcantes momentos da vida deste cantor, com especial destaque para o inicio daquela que seria a sua grande paixão, com a também cantora June Carter. O amor de Cash por Carter parece saído de uma qualquer obra shaksperiana. Amor total e sem limites, acabou com a morte de Carter, não tendo Cash conseguido sobreviver a esta morte mais que quatro meses. Uma morte por desgosto amoroso, dizem alguns.

Quanto ao filme propriamente dito, muito pouco a dizer. Seguindo e respeitando todas as fórmulas já antes usadas e vistas, o filme nunca chega a surpreender. O destaque, por isso, vai todo ele para os dois actores principais, com Joaquin Phoenix no papel de Cash e Reese Witherspoon no papel de Carter. Se ambos estão fabulosos, Phoenix consegue mesmo assim estar uns furos acima, num trabalho que chega a ser assustador de tão bom, longe do mimetismo feito por Foxx com Ray Charles. Cash é inimitável. A juntar a isto, de salientar o facto de todas as músicas no filme terem também sido elas interpretadas pelos actores, com Phoenix a não se safar nada mal.

Um filme na linha daquilo que o género pede habitualmente. Os requisitos mínimos são sempre atingidos, conseguindo por vezes superá-los. Já não é mau de todo quando isso acontece. Para ver, mas dificilmente para um dia mais tarde recordar.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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