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«Na arbitragem passa-se muito facilmente de “bestial a besta”»

Cara a Cara – Bruno Pinto

P – O que contribuiu, na sua opinião, para ser considerado o melhor árbitro do Distrital da Guarda?

R – Nunca delineei como objetivo o primeiro lugar na classificação, mas sim conseguir um lugar entre os árbitros da Associação de Futebol da Guarda que me permitisse prestar provas na Federação. Era uma época importante para mim, a da minha afirmação, onde o trabalho, o esforço, a dedicação e a equipa coesa que tive ao longo da temporada contribuíram para o resultado alcançado.

P – A classificação foi contestada por algumas pessoas nas redes sociais. Como reage a essas críticas, nomeadamente de que não ganha o melhor mas quem tem mais visibilidade?

R – Se foi contestada nas redes sociais, sinceramente, não acompanhei, mas as pessoas que a contestaram devem ter as suas razões. Na minha opinião, a classificação obtida é muito simples porque os árbitros realizaram vários testes escritos, provas físicas e foram observados em jogos. No final, os resultados obtidos por cada um traduzem-se numa nota, que foi divulgada pelo Conselho de Arbitragem como sendo a classificação final dos árbitros. Se calhar, os que contestam não acompanham a arbitragem de perto, não sabem como as coisas se processam e depois, simplesmente, falam “da boca para fora”.

P – Quais as expetativas para a próxima época?

R – A minha época iniciou-se no passado dia 22, na Academia de Arbitragem, em Rio Maior. As expetativas passam por conseguir realizar um estágio positivo de forma a conseguir entrar nos quadros da Federação Portuguesa de Futebol e, durante a época, será o continuar da temporada transata, com muito trabalho, estudo e dedicação, pois só trabalhando cada vez mais se consegue ter resultados.

P – O que o levou a ser árbitro?

R – Podemos dizer que, na altura, foi a falta de árbitros. Incentivaram-me a tirar o curso, porque na época seguinte ia registar-se essa carência e um dos árbitros estava a precisar de um assistente para conseguir ter uma equipa. Assim foi, tirei o curso em fevereiro de 2005 e até ao final dessa época fui fazendo alguns jogos, sendo que depois iniciei a época completa em 2005-2006 e continuo até hoje. E a verdade é que já vejo a arbitragem como sendo parte de mim.

P – Quais são os seus objetivos na arbitragem? Pensa chegar à primeira categoria?

R – Assim como toda a gente, tenho como objetivo chegar o mais longe possível. Aos 22 anos já levo oito épocas de arbitragem, o que não é muito normal em árbitros da minha idade, e assim sendo já são alguns anos de experiência, o que no futuro se pode traduzir numa mais-valia para mim. Com 22 anos tenho ainda uma margem de manobra grande, mas isto é tudo muito subjetivo, pois na arbitragem passa-se muito facilmente de “bestial a besta”.

P – Como vê a arbitragem distrital? Acha que tem evoluído ao longo dos últimos anos?

R – A arbitragem distrital tem tido uma evolução muito significativa, o que se pode ver pelo número de árbitros que nos últimos anos têm conseguido alcançar as categorias nacionais e também com a formação do Núcleo de Árbitros da Guarda. Este, em conjunto com o Conselho de Arbitragem, tem feito um trabalho notável, muito importante ao nível das ações de formação para os árbitros.

P – Quais são os principais problemas que um árbitro enfrenta dentro de campo?

R – Sem dúvida alguma a mentalidade das pessoas, pois, no espetáculo desportivo que é o futebol, ainda se continua a ver a arbitragem com maus olhos e como sendo sempre o elemento negativo do jogo. Compreendo que as pessoas contestem quando existe algum erro, porque só quem lá anda é que erra. O que não compreendo é que seja insultado quando estou a fazer a formação inicial com as duas equipas – e já tive casos assim –, pelo que me interrogo como é possível haver mentalidades e pessoas que vão para um recinto desportivo simplesmente descarregar o stresse da semana numa equipa de arbitragem. É muito mau quando isto acontece, pois o árbitro é considerado sempre o mau da fita. Pode ter um erro num jogo contra uma equipa e o avançado dessa mesma equipa pode falhar cinco ou seis golos, mas a culpa irá sempre recair sobre o árbitro.

Bruno Pinto

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