Quatro edifícios covilhanenses, datados do início do século XX, receberam em meados do mês passado o estatuto de “Imóvel de Interesse Público” pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), após apreciação do ministro da Cultura, Pedro Roseta. Trata-se de um conjunto arquitectónico constituído pelos edifícios da Câmara, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), da Portugal Telecom e do Teatro-Cine, situado em plena Praça do Município da Covilhã (Pelourinho), contemplado e admirado por turistas e por habitantes.
O museu ao “ar livre” e a área circundante, até 50 metros, estão «neste momento» sujeitos a «um parecer» do IPPAR caso qualquer entidade ou pessoa individual – mesmo sendo o proprietário do imóvel – pretenda fazer alguma intervenção na edificação, explica o arquitecto José Afonso, director da direcção regional de Castelo Branco daquele organismo. Para o responsável, adquirir este estatuto é, acima de tudo, «um factor de promoção arquitectónica e urbanística» e, como os imóveis se inserem num determinado contexto urbano, servem como elemento de «valorização desses sítios». É que não se trata apenas de edifícios esteticamente “bonitos”, mas é um conjunto construído que retrata a «história» da época através da sua traça, fachada e estilo, neste caso a Arquitectura do Estado Novo, sendo por isso «marcos de uma época importante», ressalva José Afonso.
Todas as mutações sociais e culturais que determinaram a identidade de Portugal ao longo dos 35 anos em que durou o Estado Novo estão “espelhadas” nestas obras do século passado, se bem que apenas os mais interessados estejam atentos a este pormenor. Por isso é que José Afonso considera as «grandes obras com valia arquitectónica» do século XX como as «mais ameaçadas», visto tratarem-se de intervenções «recentes» para a importância das quais as pessoas não estão devidamente despertas. «Há várias obras do século XX que importa agarrar e salvaguardar», defende o responsável, lamentando apenas os “atropelos” que foram feitos a muitos imóveis devido aos burocráticos processos de classificação patrimonial, que «levavam décadas» a serem analisados. Recorde-se que o pedido de reconhecimento destes imóveis com o estatuto de “Interesse Público” foi feito pela autarquia covilhanense em Dezembro de 1999, juntando-se assim à política de valorização do Pelourinho com uma “nova imagem”, digna de uma urbe moderna. Agora, a autarquia está a dar passos na requalificação da zona velha da cidade, votada ao abandono há vários anos, tendo sido criado para o efeito um Gabinete Técnico Local (GTL). Este gabinete encontra-se actualmente a fazer o levantamento de todas as carências do “coração” da cidade, com vista a recuperar o património esquecido entre a degradação. Para José Afonso a criação deste gabinete com técnicos especializados é, de resto, a «maior prova» que a Câmara está «empenhada em preservar» o património.
Liliana Correia