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Município de Figueira reclama comboios turísticos até Barca d’Alva

Entidades portuguesas não desbloqueiam situação, mas espanhóis já têm duas soluções para troço até à fronteira

A Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo vai solicitar ao Governo a reabertura para fins turísticos do troço ferroviário entre o Pocinho e Barca d’Alva. O município conta apresentar à tutela em Abril a fundamentação que sustenta esse pedido e tem vindo a juntar vários depoimentos de entidades públicas e privadas da região sobre a necessidade e as vantagens do aproveitamento de uma via com cerca de vinte quilómetros. Entretanto, do lado de lá do Águeda, os espanhóis já apresentaram um projecto de reabilitação da linha, classificada Bem de Interesse Cultural, entre Lumbrales e Barca d’Alva, na fronteira.

Por cá, 16 anos depois do fecho da linha para além do Pocinho, é tempo de constatar que não foi «essa decisão que evitou os elevados prejuízos que a CP continua a adicionar», refere uma missiva da autarquia a que “O Interior” teve acesso. Pelo que faz «todo o sentido lutar» pela reactivação dos 20 quilómetros finais até à fronteira espanhola que «muito poderão contribuir» para o desenvolvimento de um concelho que «não tem um único quilómetro de auto-estradas, de Itinerários Principais ou Complementares, nem mesmo de ferrovias e onde até as Estradas Nacionais estão em vias de extinção transformando-se em estradas regionais», argumenta na carta Armando Pinto Lopes, edil figueirense. Uma «injustiça» que poderá ser colmatada com a reabertura da linha em causa, até porque «há operadores interessados na exploração turística do comboio neste troço, o que era o maior óbice da CP ainda não há muitos anos», acrescenta o autarca. E se dúvidas houver no Governo e junto de quem tem «uma palavra a dizer» quanto a este assunto», o município espera dissipá-las com uma espécie de dossier reivindicativo assente na opinião diversa de agentes económicos, políticos, sociais e turísticos quanto à necessidade de utilização dessa via. «É necessário juntar a sua à nossa voz em prol do desenvolvimento de uma região que deveria ter merecido mais atenção por parte de todos os que nos têm governado nos últimos ano», desafia Armando Pinto Lopes.

Para lá da fronteira, o colectivo “Camino de Hierro”, sediado no município espanhol de Lumbrales, apresentou no final de Fevereiro em Salamanca um projecto de requalificação da linha. “Nuestros hermanos” propõem três fases de execução. A primeira consiste na reabilitação da via, entre a estação de Lumbrales e a ponte internacional do Águeda, para permitir a circulação de composições históricas, bem como a criação de um percurso para cicloturistas e caminheiros. A segunda estipula a recuperação de todas as estações e apeadeiros entre La Fuente de San Esteban e Lumbrales e a implantação de um comboio histórico, a ligar a Portugal na terceira fase da intervenção. Um plano que permitirá o incremento do turismo, a reconversão das velhas estações em unidades hoteleiras e a criação de oficinas temáticas ou postos de venda de produtos locais. O conjunto será financiado por um sistema misto de fundos públicos, para a reabilitação do troço e imóveis; e privados quanto à exploração de actividades. A “Camino de Hierro” estima um custo global de 3,5 milhões de euros, similar à solução preconizada pela Diputación de Salamanca. Trata-se de uma intervenção denominada “Caminho Natural” que assenta no desmantelamento da ferrovia entre La Fregeneda e a ponte internacional e a sua transformação em via verde para percursos pedestres e cicloturismo.

CP esteve disponível para reabrir linha

Em Junho do ano passado, Crisóstomo Teixeira, então presidente da CP, manifestou a disponibilidade da empresa em colaborar na reabertura da antiga linha do Douro, entre o Pocinho e Barca d’Alva, desde que as entidades promotoras apresentassem um projecto integrado de aproveitamento turístico da via. Um anúncio feito durante um debate dedicado às acessibilidades ferroviárias, durante o qual se ficou ainda a saber da possibilidade da CP em ceder material circulante recuperado, nomeadamente composições históricas e carruagens panorâmicas, e dar formação profissional aos trabalhadores necessários para o projecto. Na altura, ficou claro o interesse da empresa “Douro Azul” na exploração «completa e total» do futuro comboio turístico, tendo sido ainda revelado um estudo da Spidouro que aponta para a viabilidade económica desta utilização. Cenário que agradou à Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo, que anunciou de imediato a sua disponibilidade em participar no capital social da futura sociedade, que poderia propor comboios do vinho, históricos ou mesmo um “Expresso do Douro”, à semelhança do famoso “Expresso do Oriente”. O objectivo é atrair turistas com elevado poder de compra e fazer deste destino um mercado de topo de qualidade. Para além disso, a Refer encontrava-se a negociar a cedência dos edifícios da velha estação de Barca d’Alva com um operador que estava «grandemente» interessado na sua utilização para fins turísticos. Mas tudo parece não ter conhecido grandes desenvolvimentos nos últimos meses, tanto mais que Crisóstomo Teixeira deixou pouco depois a administração da CP.

Luis Martins

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