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Município da Covilhã está «preso por arames e fios de lã podre»

Maioria socialista continua a privilegiar entendimento com o vereador da CDU, mas não descarta acordo com eleito do PSD

Menos de uma semana depois de ter tomado posse, o novo presidente da Câmara da Covilhã confessa ficar, «a cada dia que passa», «mais apreensivo e preocupado» com a situação da autarquia. O “desabafo” de Vítor Pereira foi feito no final da primeira reunião do novo executivo, realizada na última sexta-feira, onde foram atribuídos pelouros apenas aos vereadores socialistas. O sucessor de Carlos Pinto reconheceu que continua a dar prioridade a uma “aliança” com José Pinto, vereador da CDU, mas não descarta um acordo com Joaquim Matias (PSD).

O autarca da Covilhã revelou que, «em muitos setores», o município está «preso por arames e fios de lã podre», considerando a situação «muito, muito preocupante, não só a nível financeiro» mas também ao nível da rede viária que está num estado «lastimoso», enquanto o parque habitacional está «completamente degradado» e o de máquinas «é como se não existisse, está completamente esgotado e paralisado». Deste modo, «a cada reunião que faço mais preocupado fico, mas isso também nos dá força para enfrentar essas dificuldades e vamos por certo ultrapassá-las», frisa o presidente do município que reiterou a importância de se proceder a uma auditoria: «Caso a não tivesse prometido, face às informações que vou recolhendo diariamente, chego à conclusão que ela se justificaria sempre de qualquer forma e é uma auditoria transversal, minuciosa que passará não só pela questão financeira,mas também pelo urbanismo, contratação pública e por outro tipo de contratação», reforçou o autarca. Sem querer pormenorizar, Vítor Pereira adiantou que «estamos a constatar a existência de situações muito graves» que a auditoria, a efetuar «o mais rapidamente possível», trará a lume.

O autarca não entregou pelouros aos vereadores da oposição, frisando que «essa é uma matéria que tem a ver com outras questões que aqui não foram discutidas» e que estão a ser tratadas com «recato». De resto, o edil voltou a frisar que «não temos pressa em encontrar um parceiro», pois «queremos que tudo seja feito com conta, peso e medida», até porque «a pressa é uma má conselheira». A «primeira hipótese» continua a ser alcançar um entendimento com o vereador da CDU, até porque «os resultados eleitorais foram claros ao dar maioria expressiva à esquerda no concelho», mas Vítor Pereira está aberto a outra solução, pois «funcionamos em democracia e estamos abertos ao diálogo com outras forças políticas, designadamente o PSD».

Farromba acusa maioria de «sangria e perseguição» a funcionários

No final dos trabalhos da reunião que decorreu à porta fechada, os vereadores independentes do movimento Acreditar Covilhã denunciaram que «ainda com poucos dias de Câmara» o novo executivo «já começou uma grande sangria e perseguição» a alguns funcionários, tanto que só numa semana foram substituídas «mais de uma dezena de pessoas», incluindo a chefe do sector de Cultura, Educação e Desporto, bem como da do Serviço de Comunicação e Relações Públicas. Pedro Farromba considerou que não se tratam de «cargos de confiança política» e que são substituições feitas «com o objetivo de colocar pessoas afetas ao PS na Câmara». Os dois vereadores independentes discordaram ainda de um despacho do presidente que transfere o atual presidente da Junta da cidade, Paulo Ranito, de assistente operacional para exercer funções no Gabinete de Apoio a Vítor Pereira. Pedro Farromba considera esta situação uma «injustiça para os outros presidentes de Junta» e reveladora de «demasiada aproximação da Junta urbana à Câmara, o que também poderá gerir alguns conflitos de interesses». Sobre esta questão, Vítor Pereira considera-a uma «falácia» e que não encontra «nenhuma injustiça», recordando que no anterior mandato o presidente da Junta de Santa Maria era adjunto do presidente da Câmara, e que «as pessoas estão na vida pública para defender os interesses das suas populações». Quanto à substituição de duas chefes de serviço, o edil garante que tem a «maior estima e consideração profissional e pessoal» pelas duas técnicas, mas sustenta que «quem tem as rédeas do poder tem que ter pessoas com quem esteja articulado e com quem normalmente trabalha». Deste modo, assegura que não se trata de «uma questão de competência técnica mas apenas de articulação funcional», salientando que «todos os funcionários vão ser tratados com dignidade e desempenhar funções compatíveis com a sua formação».

Vítor Pereira e Carlos Martins partilham quatro pelouros

Na primeira reunião do executivo foi confirmada a designação de Carlos Martins como vice-presidente, que vai partilhar com Vítor Pereira os pelouros dos Recursos Humanos, Administração Geral e Finanças, Ordenamento do Território e Urbanismo e Fiscalização Municipal. A par da coordenação geral dos serviços municipais, o presidente assume ainda as pastas da Cooperação Externa, Questões Jurídicas e Contencioso, Recursos Humanos, Planeamento Estratégico, Administração Geral e Finanças, Gestão Orçamental, Ordenamento do Território e Urbanismo, Fiscalização Municipal, Economia, Inovação, Tecnologia e Empreendorismo, Turismo, Comunicação e Relações Públicas, Autoridade Veterinária, Segurança e Proteção Civil, Saúde, Associativismo, Desporto, Feiras e Eventos, Gestão de Projeto de Desmaterialização Administrativa e Delegação Municipal no âmbito das Atividades Culturais. O vice-presidente acumula ainda os pelouros das Freguesias, Infra-estruturas Municipais, Obras e Projetos, Aprovisionamento e Controlo de Compras, Mercados e Cemitérios, Transportes e Trânsito, Parque Automóvel e Oficinas, Comunicações, Ambiente, Responsável pelo Acesso aos Documentos Administrativos, Responsável pelo Serviço de Apoio aos Órgãos, Património e Gestão Informática. Já a vereadora Paula Simões, que também assumirá funções a tempo inteiro, fica responsável pelos pelouros da Cultura, Educação, Escolas e Ações de Apoio à Juventude, Ação Social, Desenvolvimento Rural, Defesa do Consumidor, Gabinete Técnico Florestal e Áreas Protegidas, Gestão dos Museus e Parque Habitacional.

Ricardo Cordeiro Vítor Pereira adiantou que «estamos a constatar a existência de situações muito graves» na Câmara

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