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Multas e cartões

Os dados chegaram-me por acaso na leitura descontraída da última “AutoFoco”. A notícia citava fonte do Ministério da Administração Interna e dava conta que as multas de trânsito nos primeiros noves meses do presente ano renderam 45 milhões de Euros! (o ponto de exclamação é meu). Já agora, e sem perder o fio à meada, deixo aqui outro dado que me chamou a atenção: “…. Segundo a lei, 40% da verba reverte para o Estado, 30% para a entidade fiscalizadora, 20% para a Direcção Geral de Viação e 10% para o Governo Civil do distrito onde ocorreu a infracção”. Interessante, não é? (só isto já daria um bom tema para o artigo) Mas vamos ao que interessa. O valor das multas impressiona. Mais ainda se pensarmos que ainda estão por contabilizar os quatro meses sobrantes do ano. Mas o que realmente mais impressiona é a pouca ou nula contribuição de tais medidas para a redução do nível de sinistralidade nas nossas estradas. Portugal continua a ser o país com mais acidentes por número de habitantes no famigerado “rating” da sinistralidade na União Europeia. Parece uma fatalidade. E parece que as medidas que têm sido adoptadas, desde a tolerância zero até à agora mais do que baptizada “caça à multa”, teimam em não dar resultado algum. Façamos então a ponte para o que se tem passado na área mais visível do desporto indígena, o tão amado e discutido futebol. Parece que não há jogo que mereça destaque desportivo que não seja cheio de casos de violência e de agressões. Um dia é o Costinha a ficar quase morto, depois de um golpe de karaté de um adversário, outro dia é o Nuno Gomes que se lança, tipo atacante suicida, contra os “pitons” do guarda-redes, outra vez ainda é o Rochembach que entra “com tudo”, sem sequer se lembrar da sua própria integridade física. Não é difícil concluir que o recurso aos cartões amarelos e vermelhos para penalizar as faltas e as jogadas perigosas, apesar se ser cada vez maior, pouco ou nada tem vindo a alterar no nível de violência dos jogos. Há semelhanças entre o que acontece nas nossas estradas e o que acontece nos nossos campos de futebol. Mas o que importa mesmo inquirir é se as “coisas” terão de ser sempre assim? Recuso-me a aceitar o fado. Senão como explicar que os mesmos jogadores e as mesmas equipas violentas “cá dentro” se modifiquem e cumpram as normas quando se trata de disputar jogos da UEFA? E o que dizer também do comportamento dos nossos patrícios que quando emigrados cumprem à risca as regras e os limites ordenados pela legislação rodoviária dos países que os acolhem? Num caso e noutro, jogadores e emigrantes adaptam os seus comportamentos e atitudes ao meio em que jogam ou vivem. É a lei da vida. Tivéssemos nós dirigentes, árbitros e imprensa à altura, que o mesmo é dizer polícias e magistrados e políticos, e tudo seria diferente. Agora, o certo é que só com multas e cartões não vamos lá.

Por: Fernando Badana

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