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Mudar para melhor

Ganna Shevchenko, ucraniana na escola

Como é do conhecimento de todos, existem alunos estrangeiros a frequentar a nossa escola. Vindos de países onde, por vezes, a língua é diferente e, noutras situações, a cultura, deparam-se com um país completamente diferente onde os modos que praticavam não se aplicam. Para muitos, a maior dificuldade é a aprendizagem da língua, para outros, é a exclusão a que são submetidos devido à sua origem. Como factor agravante, não conseguem comunicar.

Ganna, do 10ºE, dezasseis anos, frequenta a nossa escola há dois anos e é exemplo de uma aluna cuja língua que falava era o mais oposto de português que se pode imaginar. Veio da Ucrânia e afirma que a maior dificuldade que sentiu foi, sem dúvida, a língua portuguesa, a qual considera “dura” e que foi “um incómodo nas aulas”. Chegou até a pensar que “nunca conseguiria falá-la”, mas acabou por aprendê-la num instante. O dicionário de Português – Russo que traz sempre na mochila tornou-se um companheiro habitual e indispensável, o qual diz usar principalmente para os exercícios nas aulas, já que ainda não conhece todas as palavras. Assumiu até que nunca tinha ouvido falar de Portugal.

Confessou ainda que no início, devido à sua origem, foi alvo de exclusão e até mesmo de racismo. “De início, senti-me um pouco excluída e alvo de racismo”, declarou. No entanto, as dificuldades foram passando e considera-se “alguém feliz que mudou para melhor”, admitiu alegremente.

Entre risos e gargalhadas, conta uma situação estranha, engraçada e embaraçosa pela qual passou devido à língua de Camões: “Quando cheguei, ainda não percebia muito da língua portuguesa e ouvi uma palavra, mas não sabia que era uma asneira, e então perguntei à “stôra” de Português o significado!” E é ambiciosa quanto ao seu desejo de vida que a fará sentir-se realizada: “Quero ser actriz, mas não portuguesa. Quero ser actriz em Hollywood!!!”

Porém, a saudade do país que deixou para trás juntamente com as suas raízes faz-se sentir nas palavras: “Sinto muitas saudades da Ucrânia…”.

EXPRESSÃO, Nov. 07

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