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Mudar de vida

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É possível que a vida seja mesmo um tabuleiro de xadrez e que cada jogada antecipe uma sequência sempre adaptada a outra colocação de peça, a outra escolha de movimento. Ou seja, o jogo muda a cada opção e obriga a uma nova história. A vida, o tecido social e a economia parecem ser semelhantes. Quando introduzimos uma moeda chamada euro criámos um impacto não medido na inflação, mas absolutamente perceptível, hoje, quando nos sentamos no café: um pastel e um bolo eram 130 escudos e hoje custam 1,40 euros, com sorte (280 escudos). A vida subiu no mínimo 100% nestes oito anos.

Os meus avós, médicos, como eu, adquiriram imóveis sem dar nada em troca. O meu pai fez muita ginástica para comprar algum e eu nunca comprei nada. Rigorosamente nada. Não fumo, Não bebo, não tenho ninguém por conta, não pago pensões de alimento a outros filhos, não perdi dinheiro ao jogo. Que jogada escolhi mal? Onde podia ter subvertido as opções que tomei e ter conduzido o meu trabalho ao sucesso? Não sei! Rigorosamente e sem vaidade, acho que ter sido médico, ter chegado a cirurgião, ter toda a vida trabalhado seriam bases de condicionalismo do êxito. Mas não foram. O que condicionou este segundo facto? O sucesso não vem do empenho no trabalho nem da escolha profissional. E o que seria um bom objectivo? Comprar uma casa, ter um carro e pagar os estudos dos filhos? Talvez acrescentar aqui princípios: qualidade em materiais, velocidade na aquisição, gosto culto nas opções. De facto, tudo gira em torno de um valor único: o dinheiro. Como adquirir sem bons salários? Como escolher entre bons leques sem sustentabilidade financeira? E aqui percebo que muito do meu erro é o tabuleiro. Jogo sem um salário que comporte as necessidades mínimas. Jogo sem que o mérito e o empenho tenham benefício. Jogo sem que o dinheiro se reparta pelas tarefas. Ou seja: eu jogo mal e, como os asnos, percebi tarde que este jogo não era o meu.

Por: Diogo Cabrita

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