Arquivo

Monumento Nacional em ruínas

Junta de Freguesia de Alfaiates teme que o castelo e a Igreja da Misericórdia estejam em perigo de desaparecer

O património de Alfaiates, no concelho do Sabugal, está em risco e já há quem avise que um Inverno rigoroso poderá potenciar os efeitos do «abandono» a que os principais monumentos da vila têm sido sujeitos. Em causa estão o castelo, monumento nacional desde 82, e a Igreja da Misericórdia, imóvel de interesse público desde 52, dois palcos da história do país actualmente «esquecidos» e fechados por causa do perigo de ruína. Mas pior que as intempéries só mesmo a «burocracia», garante a Junta de Freguesia, que considera urgente a realização de obras de consolidação e de restauro. O IPPAR, por sua vez, revela que há estudos em curso.

Entretanto, Horácio Botelho desespera ao ver o património da vila «degradar-se de dia para dia». O presidente da Junta diz mesmo que as intervenções podem «vir tarde demais» e responsabiliza a burocracia e o «centralismo de Lisboa» por atrasar «irremediavelmente» a salvação do castelo, fechado há quase um ano por ordem do IPPAR devido ao perigo de ruína, e da Igreja da Misericórdia, cujas paredes estão a ceder e o telhado apresenta inúmeras infiltrações. «Por outro lado, a delegação de Castelo Branco do IPPAR não tem verbas nem técnicos para uma intervenção de emergência. A Junta de Freguesia também não pode ajudar porque não tem possibilidades financeiras para tal nem está autorizada a “mexer” num monumento nacional», refere Horácio Botelho, receando que este impasse possa ser «dramático» para Alfaiates. «Corremos o risco de perder um património que resistiu a guerras e ao tempo, mas está à beira de ruir pelo esquecimento e inacção dos serviços centrais de um organismo público vocacionado para cuidar dos monumentos nacionais», critica. No caso do castelo, cuja última intervenção de conservação aconteceu em 1986, parte da muralha está em ruína e a torre de menagem para lá caminha devido ao cunhal de uma janela estar a ceder. «Se este cai, cai tudo o resto», garante o presidente da Junta, para quem «mais vale deitar tudo abaixo do que ver o castelo cair aos bocados».

João Afonso, director da delegação regional de Castelo Branco do IPPAR, confessa, por sua vez, que o instituto tem que «recorrer a diferentes instituições» para poder avançar com alguns projectos em Alfaiates. Conta nomeadamente com a colaboração da autarquia do Sabugal, cujo Gabinete Técnico Local (GTL) está a elaborar o projecto de arquitectura para posterior intervenção no castelo, após um relatório técnico do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre a estrutura e a pedra do monumento. Entretanto, também o Laboratório de Petrologia do Instituto Superior Técnico está a colaborar na análise daquele granito, «que está doente e a desfazer-se», explica João Afonso. O responsável admite mesmo que esta é a situação mais preocupante, mas que «nada poderá ser feito» sem as conclusões destes estudos, mas revela que as obras de restauro das pinturas da igreja do convento de Sacaparte, situado a poucos quilómetros de Alfaiates, já estão adjudicadas a uma empresa especializada e irão ser apoiadas por fundos do III QCA.

Uma perspectiva que, por enquanto, está longe de acontecer no castelo. Construído no século XIII ou XIV, o conjunto fortificado beneficiou de inúmeras intervenções desde que a vila foi integrada no território português, em 1297, em consequência do Tratado de Alcanizes. Desempenhou um papel importante durante as invasões francesas, mas foi transformado em cemitério após a extinção do estatuto concelhio (1836). A última intervenção referenciada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos aconteceu em 1986, tendo sido consolidada a torre de menagem e um cunhal, colocadas as Armas de Portugal numa das faces da torre, bem como estabilizados os arcos e executado o remate dos peitoris de duas janelas. Já a Igreja da Misericórdia, provavelmente edificada nos séculos XIII/XIV e palco, em 1330, das celebrações do casamento da Infanta D. Maria, filha de D. Afonso IV de Portugal, com D. Afonso XI de Castela, conheceu muito menos restauros. Uma riqueza histórica que Alfaiates recordará em breve com uma homenagem a Braz Garcia de Mascarenhas, último governador daquela praça no século XVII, que será imortalizado num busto em granito no Largo do Castelo, mas também pela edição dos três forais concedidos à vila raiana por Afonso X de Leão, D. Dinis e D. Manuel.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply