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Monte de Cinco Vilas à venda na net

Núcleo mais antigo da aldeia está à venda num leilão on-line, depois de Gonçalveiros

Depois da aldeia de Gonçalveiros, uma anexa do Codeceiro, ter sido colocada à venda num leilão da Internet, outra lhe seguiu os passos. Agora, no mesmo sítio do Clix, estão à venda 13 casas antigas em Cinco Vilas, uma aldeia com traça medieval, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Trata-se do núcleo mais antigo, há muito desabitado, e situa-se na parte alta da localidade. Na aldeia ninguém sabia da venda e alguns até pensavam que já tinham sido vendidas aos espanhóis.

«Vendem-se, em Cinco Vilas, aldeia integrada no Centro Rural do Côa, um conjunto de 13 casas em granito com terreno anexo». A referência chama a atenção dos cibernautas e a base de licitação está em 139.900 mil euros, mas o conjunto ainda não foi arrematado por ninguém. Ali, encontramos alguns pormenores: necessitam de reparação e as casas não podem ser vendidas separadamente, pois o conjunto está vocacionado para a implementação de um aldeamento turístico. Condicionantes em tudo semelhantes às de Gonçalveiros. Do alto do monte vislumbra-se uma vista de rara beleza: ao fundo a Serra da Marofa, Castelo Rodrigo e o Vale do Côa. A aldeia está encravada entre o rio Côa e os ribeiros dos Malhadais e de Vale de Ciada, brindada com um microclima mediterrânico. Daí os montes circundantes de vinhas, olivais, figueiras ou sobreiros. Contactado por “O Interior”, o promotor preferiu não prestar declarações guardando-se para o final do leilão, a 26 de Agosto. Segundo os detalhes fornecidos no site a oferta inclui também «projectos de arquitectura» para a recuperação de sete dessas casas, com piscina e campo de ténis «aprovados pelo município». Trata-se de um conjunto de casas de granito, degradadas, de várias dimensões, que estão na parte onde outrora nasceu Cinco Vilas.

E tem condições para ser «totalmente vedado, sendo ainda passível de candidatura a programa específico para financiar a recuperação das mesmas», segundo a mesma fonte. Para além das óptimas acessibilidades, do ambiente saudável, da proximidade com a Natureza e dos vestígios de antigos moinhos no rio Côa ou das ruínas da ponte romana. A poucos quilómetros fica também aquele rio, que está escondido por escarpas e a densa vegetação. Mas bem guardado pelas ovelhas, as únicas que por ali usufruem das suas potencialidades. «Há um projecto para as margens do rio, que conta com um parque de merendas e uma praia fluvial, mas não é para já», esclarece Jacinto Alverca, presidente da Junta de Freguesia. Quanto às casas à venda, o autarca diz desconhecer o processo: «Na verdade, vieram para aí os espanhóis para investir no turismo rural, com um promotor local, mas agora não sei como está a situação», recorda. Daí os populares, que descansavam à sombra no largo da aldeia, terem ficado surpreendidos com a venda das propriedades: «Pensava que já tivessem sido vendidas aos espanhóis», atira uma senhora. Na altura, a Junta foi sensibilizada para o projecto turístico e, juntamente com a Câmara de Figueira Castelo Rodrigo, criaram as infraestruturas necessárias, como as acessibilidades e o saneamento básico.

«Agora, só resta esperar que alguém invista», naquela aldeia vítima da desertificação, refere o edil. Também há mais casas desabitadas na localidade com um letreiro a dizer “vende-se”, alguns já apagados pelo tempo. Actualmente, Cinco Vilas tem cerca de 100 habitantes, mas no Verão chegam a ser mais de 400 com os emigrantes. «Qualquer dia é uma aldeia fantasma, os jovens vão desaparecendo e os velhos também», desabafa Goulart Medeiros, um açoreano que por ali descansa aos fins-de-semana.

“Cinco Vilas não foi Roma por um grão de trigo”

Reza a história que Vila Nova terá sido o nome primitivo daquela freguesia. Foi no seu termo que nasceu a célebre Ordem Militar de S. Julião do Pereiro, confirmada em 1167 pelo Papa Alexandre III. No século XVI, aquando de uma violenta batalha travada contra os espanhóis, refugiaram-se ali os moradores de quatro povoações: Nossa Senhora do Pronto, Senhora do Pereiro, S. Pedro e Fontenares. Esta última foi arrasada pelos espanhóis nas guerras da Restauração, tendo o seu foral transitado para Cinco Vilas, que passou então a ser vila. A freguesia desenvolveu-se à volta do convento de São Julião, onde mais tarde residiram os Cavaleiros Templários. Desconhece-se, por isso, o ano da sua fundação e o seu fundador. Dizem também os populares que era terra de cinco vilões que se uniram para dar lugar a Cinco Vilas.

Patrícia Correia

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