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Monólito para Museu do Côa

Solução apresentada por dois jovens arquitectos portugueses surpreendeu júri do concurso público internacional

Um monólito com janelas em frestas, semi-enterrado e com oito metros de altura na vertente virada para o vale do Douro, é o grande vencedor do concurso público internacional, organizado pela Ordem dos Arquitectos, para a concepção do futuro Museu do Côa. A escolha do júri foi divulgada na segunda-feira e recaiu sobre um projecto elaborado por dois jovens arquitectos desconhecidos do Porto, Tiago Pimentel (31 anos) e Camilo Rebelo (32 anos). A sua proposta mereceu rasgados elogios no relatório final e um prémio de 25 mil euros. O Instituto Português de Arqueologia (IPA) espera agora que a construção comece no início de 2006 e que o museu possa ser inaugurado no último trimestre de 2007, onze anos depois de ter sido prometido pelo Governo de António Guterres para o vale do Côa.

Este foi um dos concursos mais disputados dos últimos anos em Portugal, já que o júri teve que apreciar as propostas de 42 gabinetes de arquitectura e arquitectos em nome

individual. Contudo, a opção final destacou-se, segundo o relatório do júri, por ser uma solução arquitectónica «extraordinária e carismática». Mas os elogios não se ficam por aqui e o mesmo documento, divulgado pelo Ministério da Cultura, refere que o trabalho apresenta «uma figura forte, capaz de responder com clareza e intensidade aos valores da paisagem e do território», para além de ser «uma inventiva e adequada resposta à integração na envolvente». Nesse sentido, destaca-se a fachada virada para o vale do Douro e feita de grandes superfícies envidraçadas, cujas janelas espelhadas no exterior reflectem a paisagem. Outra solução inesperada reside no acesso ao museu, pois vai fazer-se pela cobertura do edifício. Este e os restantes 41 projectos a concurso serão o tema de uma exposição patente em Vila Nova de Foz Côa a partir de meados de Julho. De resto, o júri atribuiu o segundo prémio ao “atelier” CVDB (Cristina Veríssimo e Diogo Burnay), no valor de 18 mil euros, e o terceiro a Walter Rossa, no valor de 10 mil euros. Foram ainda atribuídas duas menções honrosas, de 3.500 euros cada, a Miguel Borges da Costa e a Pedro Borges de Araújo.

No entanto, os participantes ainda dispõem de um prazo de reclamação de cinco dias, devendo a decisão final ser confirmada, ou não, a 7 de Junho, data de nova sessão pública do júri, constituído por Fernando Real, presidente do Instituto Português de Arqueologia (IPA), que vai presidir, João Belo Rodeia, presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), João Herdade (Instituto Português de Museus), Sotero Ribeiro (autarca de Foz Côa), Alpoim Guedes (Ordem dos Arquitectos), João Gomes da Silva (Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas) e Gonçalo Byrne (arquitecto). Um septeto assessorado por vários consultores nas áreas de Museulogia, Arqueologia e Arte Rupestre, nomeadamente Luís Raposo (director do Museu Nacional de Arqueologia) e António Martinho Baptista (director do Centro Nacional de Arte Rupestre). Há mais de uma década que o Museu do Côa é considerado um projecto-âncora no desenvolvimento da região. Com uma área coberta máxima de seis mil metros quadrados, este equipamento tem orçamentados 8,5 milhões de euros para o edifício e acessos, mais quatro milhões de euros para a museologia, verbas previstas no III Quadro Comunitário de Apoio. O contrato de projecto que se pretende celebrar com o vencedor cobrirá as valências necessárias de arquitectura e de arquitectura paisagística, todas as engenharias e ainda museologia, sendo toda a intervenção perspectivada em cenário de planeamento bioclimático, de optimização e de eficiência energética.

Processo conturbado

A intenção de construir o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa remonta a 1996, ano da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), uma área considerada Património da Humanidade a preservar dois anos depois pela UNESCO. Em 1998, o Estado português assumiu o compromisso de desenvolver a conservação da Arte Rupestre e promover a construção de um museu, de modo a proporcionar a um público alargado a informação adequada, inseri-lo nos circuitos do turismo e promover o desenvolvimento económico e social da região. Contudo, a sua concretização tem sido muito conturbada. No final de 2001, o Ministério da Cultura de então escolheu o projecto em cascata de Maia Pinto, director do PAVC, para o sítio da Canada do Inferno, local onde deveria ter sido construída a barragem da EDP. O Governo PS caiu em Março de 2002 e arrastou consigo o primeiro Museu do Côa, que a coligação PSD-PP mudou para uma encosta sobranceira à confluência dos rios Côa e Douro, na zona Norte do parque. Uma nova localização, no Vale de José Esteves, que implica um projecto mais pequeno, custos mais reduzidos, mas centralidade em relação a vários núcleos de gravuras. Para o Ministério da Cultura, são objectivos do empreendimento, a adequação do projecto à divulgação do Vale do Côa, da arte rupestre, da arqueologia regional, bem como a integração harmoniosa do conjunto edificado na paisagem, as acessibilidades internas e externas. Sem esquecer a contenção das áreas brutas cobertas edificadas a um máximo de seis mil metros quadrados e ao valor global do empreendimento, com custos máximos de 30 milhões de euros.

Luis Martins

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