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Momentos

1. Cavaco Silva atingiu o topo. É finalmente entronizado como Presidente da República, com pompa e circunstância. Como primeiro acto, escolhe a condecoração de Sampaio – devidamente publicada em Diário da República. É como se pensasse que assim obteria a reconciliação com o eleitorado que o não escolheu e ainda lhe mostra alguma hostilidade. O seu discurso na tomada de posse foi fraco, embora voluntarista, mas não há que levar-lho a mal: disse o que queria dizer, atendendo às circunstâncias. Esse discurso foi o último acto da campanha, ou uma sua continuação natural. Depois, mais nada. Cavaco não voltou a abrir o bico. Suponho que estuda os “dossiers”, se há disso em Belém. Espero que não se lembre de inaugurar agora um dos seus tabus.

2. De um momento para o outro, deixou de haver frio. Quando saio à rua, de manhã, já não vejo gelo nos vidros dos carros. As camisolas parecem supérfluas, e nem falo dos sobretudos, já escondidos no armário. A cerejeira do quintal explode em rebentos que se vão transformar em flores no espaço de poucas semanas. Os dias parecem muito mais luminosos, e mais compridos. Tenho comichão nos olhos e o nariz a pingar. Chegou a Primavera.

3. Desprezo a sorte enquanto parente pobre do mérito. Ganhar com sorte é um pouco como fazer batota. É o mesmo que apostar tudo num número e ficar à espera que saia, e sair mesmo, o que funciona como reforço de um comportamento errado. O que é o mesmo que dizer que se é um imbecil, ou um irresponsável, mas com sorte. Ou então, e é o caso em Portugal, que se desistiu na difícil procura do mérito. Mas tem de se aceitar que haja quem aposte nisso. Tem mesmo? Para mim, quem aposta tudo na sorte não merece ganhar. Lamento também a péssima imagem que a Liga de Futebol dá do país, com três ou quatro equipas a apostar no mérito e as restantes na sorte. Pode-se também apostar em ambos, arriscar, mesmo sabendo que as possibilidades são poucas, mas aqui porque se acredita nas próprias forças para virar a situação se a Fortuna nos virar as costas – o que não é manifestamente o caso entre nós.

Sugestões

A solução de um mistério: Segundo o Utilitarismo, o julgamento dos nossos actos deverá ter em conta as nossas intenções finais. Por isso, pode não ser errado mentir numa campanha eleitoral e levar os eleitores a votar em nós, enganados pela nossa mentira, se a nossa intenção for com isso ganhar as eleições para lhes garantir uma vida melhor. Assim, a nossa mentira teria justificação, seria piedosa. Por isso disse há tempos na televisão um político do PS que Maquiavel era fundamental para a nossa civilização ao ter conseguido separar a Política da Moral. Não lhes chamem mentirosos, chamem-lhes utilitaristas.

Uma receita: Ovos a 65 graus. De acordo com os cientistas, a melhor maneira de obter o ovo quente perfeito é conseguir que o seu interior fique a 65 graus – a exacta temperatura a que a clara coagula. Obtém-se de duas formas: ou colocando no forno um ovo a 45 graus, por duas horas ou mais, ou numa panela com água e um termómetro. Não se esqueça do ovo!

Um livro: O Sangue de Cristo e o Santo Graal (Europa América), de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln. Os autores acusam agora Dan Brown, o autor de O Código Da Vinci, de plágio. O problema é que eles, na sua obra, se apresentaram como historiadores. Os factos relatados no seu livro seriam por isso verdadeiros. E pergunto: é possível plagiar a realidade?

Por: António Ferreira

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