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Momento de justiça

Conheci o Dr. António Correia quando, há 20 anos, tive o privilégio de integrar o grupo de Português da Escola Secundária de Sé, que incluía professoras e professores com elevado grau de seriedade e competência. O orientador do grupo era então o Dr. Bernardo Duarte, um professor de erudição e trato invulgares e que me tratou sempre com afabilidade e extrema correcção. E compreensão. Nunca mais me esqueci, ou esquecerei, dele.

Lembro-me, quando pela primeira vez integrei o grupo, de o Dr. António Correia, sem me conhecer de lado algum, me ter posto o braço à volta do ombro e me ter dito: «Colega, esteja à vontade, você tem alguma coisa a aprender connosco e nós teremos certamente muito a aprender consigo». Nesse exagero simpático que à minha pessoa dizia respeito, descobri uma pessoa boa e um amigo bom, como sempre o senti, apesar da vida entretanto nos ter afastado, muito por culpa minha.

O Dr. António Correia ajudou-me a ver, descobrir, S. Tomás de Aquino e tantos outros pensadores da maneira inteligente como devem ser vistos e eu não via. Ajudou-me a descobrir a Idade Média de maneira diferente da que eu e a minha geração aprendemos no Liceu. Devo-lhe a descoberta do imortal Miguel Torga. Nunca me esquecerei da paixão com que, no café Mondego, me falava dos “Contos da Montanha”, dos homens de Fronteira que, de madrugada, enfrentavam o medo e a vida, e das quase lágrimas com que me descrevia os últimos momentos do Nero ou o sofrimento do Miura na arena, histórias lindíssimas que aparentemente falam de animais, mas é de nós que falam.E do Mar, esse hino à amizade. Na paixão com que falava da vida senti sempre nele um homem sério e bom. E ajudou-me a transmitir esses sentimentos aos meus alunos.

O Dr. António Correia e esposa, que também tive o privilégio de conhecer, são pessoas sensíveis, boas e puras, que, como diz o Editorial da última edição de “O Interior”, dedicaram o melhor das suas vidas a cuidar de crianças órfãs e desprotegidas. Por isso considero absolutamente infames, nojentas e rasteiras, todas as atoardas e vexames que certa imprensa desejosa de notoriedade e lucro, lançou sobre pessoas impolutas como o Dr. António Correia e esposa e que despedaçaram a sua dignidade e honorabilidade. Congratulo-me com a posição que “O Interior” manteve sobre o assunto e com a referência que ao mesmo faz no Editorial da última edição, que subscrevo em absoluto.

É um momento de Justiça, como o foi, a outro nível, o arquivamento do Inquérito por parte do Ministério Público. É assim que os jornais sérios devem tratar assuntos destes.

Fernando Isidoro, carta recebida por e-mail

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