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Moliére em cena

Almanzor – Companhia de Teatro Experimental da Guarda – estreia em finais de Abril

O encenador dá as últimas indicações, ouvem-se as clássicas pancadas e sobe o pano. No palco estão as três preciosas ridículas de Molière, descontraídas, tranquilas e seguras. As cadeiras estão vazias porque são só os ensaios, a única que está ocupada é a do encenador Rui Calisto que, na primeira fila, segue atentamente as deixas e os gestos das personagens. De vez em quando manda parar a cena: «Cuidado com as movimentações bruscas em cima do palco, fica antes ali», ou «não quero ouvir as deixas por detrás das cortinas», avisa.

O grupo está a dar os primeiros passos nestas andanças. Tudo começou por um curso de iniciação ao teatro nas instalações do Centro Social e Cultural de São Miguel, orientado por Rui Calisto, actor, encenador e professor na Escola Arte 6, da conhecida actriz brasileira Thaís Campos. Actores e actrizes interpretaram durante três dias num palco imaginário. Uns pelo gosto e outros por mera curiosidade, todos decidiram integrar o projecto em Fevereiro do ano passado. Veio depois o “bichinho” do teatro. Inicialmente, pretendia «trazer à Guarda uma linguagem profissional de teatro», disse Rui Calisto, que, depois do entusiasmo demonstrado, mudou de ideias: «Acho que é possível encenar um grande espectáculo», adianta. Um dos objectivos do “workshop” era «deixar o gosto pelo teatro» e isso foi alcançado, assegura. Agora pretendem criar um novo grupo de teatro na cidade, promovido pelo NDS e com o apoio da Junta de Freguesia de São Miguel. Para tal, já estão a ensaiar a primeira produção e foi o nome da personagem mais insignificante da peça que serviu de inspiração para baptizar o grupo: Almanzor – Companhia de Teatro Experimental da Guarda. Desde Outubro que o elenco está a encenar “As Preciosas Ridículas de Moliére” aos fins-de-semana, de quinze em quinze dias. A estreia está prevista para finais de Abril, no auditório do Instituto Português da Juventude.

O encenador diz ainda não estar muito preocupado com o facto da maioria dos intervenientes possuírem pouca ou nenhuma experiência de teatro, porque assim «também não têm vícios». Quanto aos ensaios, estão «a correr muito bem», já que os aprendizes prestam muita atenção e colocam em prática tudo o que aprendem, constata Rui Calisto. Nesta comédia, Moliére tenta destruir através do ridículo a ideia nova da educação das mulheres, troçando abertamente da sua vontade de saber e da sua criatividade. Mafalda, de 16 anos, interpreta a personagem de Cathos, uma das preciosas fúteis que só pensa nos luxos de Paris. Sem nenhuma experiência no teatro, entrou no grupo «por brincadeira» e depois «começou a ser mais a sério», garante. Agora, está empenhada em decorar o seu papel. Já conhecia alguns elementos do elenco, «o que facilita a cumplicidade», confessa a jovem, para quem o «mais difícil» é decorar o texto e colocar a voz. «Às vezes esqueço-me das deixas, mas isso deve acontecer até aos melhores», adianta.

Patrícia Correia

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