Já está disponível o disco “Missa para Coro, Solistas e Orquestra”, de João José Baldi, gravado ao vivo durante um concerto no palco monumental da Sé Catedral da Guarda a 27 de Novembro, por ocasião dos 804 anos da cidade. A interpretação moderna desta peça inédita do compositor do séc. XVIII e Mestre de Capela da Sé ficou a cargo da Orquestra Filarmonia das Beiras, do Coro Aeminium e de sete solistas, sob a direcção do maestro António Vassalo Lourenço. A iniciativa, pouco habitual no país, é da responsabilidade da Câmara da Guarda, que, com o apoio da Egicar, editou o registo digital de um recital que marcou o regresso de Baldi (1770-1816) ao seu primeiro palco.
A esfera musical na oferta cultural do município é uma «preocupação» que a autarquia pretende continuar a dinamizar, reafirmou Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara, na sessão de lançamento do disco realizada na passada sexta-feira, lembrando a propósito a edição de partituras de obras compostas por Pinto Geada e Vítor Casanova. No caso desta Missa, trata-se de uma gravação “ao vivo” realizada na Sé, pelo que apresenta condicionalismos técnicos e artísticos próprios e pode, por isso, «denotar falhas intrínsecas a este tipo de registo», adverte Américo Rodrigues, animador cultural da autarquia, anunciando que o CD vai ser distribuído «um pouco por todo o país». No entanto, esta edição é também um exemplo de que o tecido industrial da Guarda está «mais sensibilizado» para aderir a este género de iniciativas. Neste caso foi a Egicar, concessionário automóvel, que assumiu o patrocínio, mas «estamos receptivos a todas as empresas», anuncia Américo Rodrigues. Uma colaboração explicada por Crespo de Carvalho, sócio da Egicar, como resultante do facto do cidadão «ter hoje exigências às quais as empresas têm por obrigação dar respostas». Neste sentido, o também vereador, eleito pelo PSD, acredita que é importante reconhecer publicamente a actividade cultural do município.
O registo ao vivo da “Missa para Coro, Solistas e Orquestra” possui uma dupla importância. Representa e divulga um dos grandes mestres da música erudita portuguesa, mas passa também a ser o único símbolo do que resta do antigo arquivo da Sé da Guarda, incendiado nas invasões francesas. A partitura original da “Missa” de Bladi foi escrita em 1801 e adaptada pelo padre José Pinto Geada às actuais orquestras clássicas. A obra divide-se numa Sinfonia e prossegue depois com os habituais Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus Benecdictus, e Angus Dei, interpretados pelos solistas Carla Reis e Catarina Borga (sopranos), Natália Brito e Isilda Margarida (mezzo sopranos), Marco Santos e Tiago Pereira Bastos (tenores) e Nuno Dias (baixo). João José Baldi, filho de Carlo Baldi, músico italiano que trabalhou na Corte, iniciou a sua carreira em 1789 na Guarda com apenas 19 anos. Aqui foi Mestre de Capela, do Órgão Grande e da Escola de Música até 1794, sendo o artífice do apogeu musical do templo. Foi também cantor, organista e pianista, passou posteriormente pela Sé de Faro, compôs para seis órgãos simultâneos para a Basílica de Mafra e, a partir de 1800, fixou-se definitivamente em Lisboa, tocando na Capela Real da Bemposta, na Sé Patriarcal e no Seminário. A sua música religiosa, afeiçoada ao gosto italiano, teve grande divulgação em Portugal e no Brasil, sendo sobretudo apreciado pelo brilho e originalidade das suas composições. A edição e a gravação deste CD esteve a cargo dos serviços de áudio do Instituto Politécnico do Porto.
Patrícia Correia
