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Milagres precisam-se

Crónica Política

Começo esta minha primeira crónica no jornal «O Interior» com uma citação do Marquês de Maricá: “É quando menos se acredita em milagres que os povos os exigem dos que governam”.

Mais que uma frase feita, esta é a realidade dos nossos dias, não só por todo o Mundo, mas com particular incidência na nossa Europa. O projecto europeu está a ser posto à prova como nunca o tinha sido antes. Já por diversas vezes dei por mim a questionar-me do que será o futuro do velho continente se a união monetária, vulgo Euro, colapsar perante este forte ataque especulativo. Se isso acontecer é a morte mais que certa da União Europeia.

É claro que se esta morte acontecer, existem obviamente coveiros ávidos para lhe fazer o enterro, a começar pelos Estados Unidos da América, que sempre olharam para este projecto europeu como uma ameaça à sua pretensa supremacia mundial. No entanto não serão os únicos. Curiosamente, ou talvez não, também entre aqueles que tratamos por parceiros existem os que esfregariam as mãos se a União fracassasse.

O problema deste não desejável fracasso é que, se a União Europeia acabar, nada será como dantes, ou seja, não se fragmentará em 27 “peças”, mas sim em 5 ou 6 blocos que, em função dos seus interesses, poderão criar relações muito tensas entre si.

Num cenário destes, fico deveras preocupado enquanto português. As minhas preocupações devem-se sobretudo a dois factores: o facto de sermos um país ultraperiférico e, ou principalmente porque, a nossa economia é uma das mais abertas dos 27.

Poderão os leitores estar a questionar-se porque falo eu da Europa quando temos em Portugal tantos problemas com que nos preocuparmos. A resposta é simples: somos dos principais interessados em que a União Europa enquanto projecto não caía às mãos dos especuladores económicos que têm a sua linha de actuação orientada com os interesses americanos.

O que seria da nossa economia se os espaço único europeu desaparecesse? Sem os nossos principais clientes, o que aconteceria às nossas empresas? E quais os efeitos da diminuição da procura do nosso país pelos investidores europeus? As consequências seriam dramáticas para o País.

São-nos exigidos sacrifícios, enquanto portugueses e europeus, para que esta nossa realidade não seja destruída.

As medidas que é necessário tomar para inverter este estado de coisas nem sempre, eu diria mesmo que nunca, são populares. Exigem coragem e determinação, mesmo que isso possa ser confundido com mudança de atitude ou quebra de palavra. O estado do País e da Europa necessita de dirigentes que se disponham a trabalhar para o objectivo comum de ultrapassar o mais rapidamente possível esta crise que a todos afecta.

Termino esta primeira crónica com uma pequena pergunta aos nossos leitores que não deixa de ser uma provocação aos partidos da oposição: “Porque não aprovaram a Moção de Censura que o PCP apresentou no Parlamento na semana passada?”. A resposta é simples: porque os momentos são de dificuldades, isto é, governar sim, mas quando nos der jeito. É claro que o discurso oficial de que seria desastroso para a economia do País não pega. Não pega porque é um engodo, se as alternativas fossem melhores e o País pudesse beneficiar com elas os mercados iriam reagir como sempre reagem, em alta.

Os tempos que correm não se coadunam nem com demagogia nem com calculismo político, prática que eu usualmente apelido de politiquice.

Por: Nuno Almeida

* presidente da concelhia do PS da Guarda

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