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Micro-empresas de Trancoso apostam na internacionalização para fugir à crise

As pequenas empresas da região vendem cada vez mais para o estrangeiro e algumas já exportam mais de metade da produção

As exportações continuam a crescer em Portugal, apesar de um ligeiro abrandamento no segundo trimestre deste ano. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, as vendas ao estrangeiro aumentaram, em termos homólogos, 11,5 por cento entre janeiro e março, enquanto no segundo trimestre a subida foi de 6,8 por cento.

No passado mês de março, as exportações portuguesas bateram mesmo um recorde ao renderem mais de 4.000 milhões de euros, 200 milhões acima da anterior marca, de há quatro anos. A exportação apresenta-se assim como um caminho válido para fugir à crise que assola o mercado nacional e que já está a ser percorrido por micro-empresários da região dos setores agro-alimentar, carpintaria e rochas ornamentais. Algumas destas empresas já exportam mais de metade da sua produção. É o caso da Trancosopedra, que realiza com a França e a Suíça «80 por cento do volume de negócios», segundo a responsável Cristina Fonseca. «A crise sente-se muito na nossa zona e perante esse cenário são importantes os negócios com o estrangeiro para equilibrar a balança», diz. Nesta empresa do ramo das rochas ornamentais, «as vendas lá para fora até têm subido e é o que nos vale», acrescenta a responsável, concluindo que «neste momento, quem nos está a manter é o estrangeiro, pois trabalhamos quase em exclusivo para fora».

Quanto ao mercado interno, Cristina Fonseca admite que «não está favorável e vai continuar assim por o setor da construção civil estar praticamente parado. A exportação continua, por isso, a ser uma aposta fundamental para esta empresa. «Aliás, se não fossem as vendas para o estrangeiro, não sei como seria», afirma Cristina Fonseca. No mesmo setor, a Marmoraria Trancosense também depende largamente das exportações. «Neste momento, seguramente 60 por cento da nossa produção é destinada ao estrangeiro, concretamente França e Suíça», confirma Hélder dos Santos. «O negócio por aqui está péssimo, sente-se a crise, não tanto pela falta de trabalho, mas pelo facto dos preços não serem o que eram. Tem de se trabalhar muito mais e ganha-se muito menos para que a atividade seja minimamente rentável», afirma o responsável. No mercado interno, «vão-se vendendo algumas bancadas de cozinha, algumas campas e pouco mais».

O volume de negócios «caiu um pouco comparativamente ao ano passado, em termos nacionais, mas na exportação aumentou». Apesar disso, o empresário está preocupado com os pagamentos, «que nem sempre são feitos no devido tempo». As expectativas são, contudo, «muito boas» para o mercado externo. O otimismo não se estende à situação portuguesa, pois «cada vez há menos gente e o emigrante, que era quem ia mantendo de pé a economia local, também constrói menos», constata Hélder dos Santos. Na Granitos Santos e Capelão, Lda, o responsável João de Deus Santos também se queixa que «os negócios andam muito em baixo», valendo as exportações para os mercados suíço, francês e espanhol. «Ainda assim, continuo a vender mais para o mercado nacional», refere este empresário, que revela algum pessimismo em relação ao futuro.

«O nosso interior já estava mal e agora cortaram-nos as pernas com as portagens nas auto-estradas», considera. «Desde que a A25 tem portagens, só fui a Espanha uma vez. Nem nós lá vamos, nem eles cá vêm e há negócios que deixam de se fazer por causa disso», alerta, concluindo que «se dependermos só do mercado português, a não ser que haja mudanças de fundo, a solução é fecharmos todos a porta».

Emigrantes com papel importante no comércio interno

No setor da carpintaria, a empresa Aristides Saraiva & Filho, Lda. também tem na exportação uma importante fonte de rendimentos. «30 por cento da nossa produção vai para fora, principalmente para França, e grande parte dos restantes 70 por cento que vendemos cá dentro destina-se a emigrantes», refere Rui Saraiva. «Vai-nos valendo a parte da emigração para trabalharmos, porque no mercado nacional a situação não é favorável. Vai havendo trabalho, mas nada de significativo», afirma o responsável da empresa. Quanto ao cliente português, Rui Saraiva considera que «já não tem muita disposição para obras e com a crise passa a ter ainda menos. Além disso, como já há portas, chãos e rodapés à venda em qualquer lado, se é necessário fazer algum biscate, as pessoas compram e assentam elas próprias e não recorrem às carpintarias». As expectativas deste empresário apontam por isso para que o mercado nacional se mantenha fraco, «até porque neste setor há muita concorrência, e não há trabalho para tanta gente». «Já lá fora, se não houver uma qualquer mudança repentina, penso que o volume de negócios se poderá manter e até aumentar», acredita.

Na Salsicharia Artesanal Coelho, em Freches, «80 por cento do volume de negócios em agosto é feito com os emigrantes», revela Nuno Coelho, responsável da empresa. O empresário acrescenta que a salsicharia está a preparar-se para colocar os seus produtos além-fronteiras. «Ainda não exportamos, mas poderemos vir a fazê-lo muito em breve, pois estamos em negociações com alguns estabelecimentos comerciais em França e na Suíça para ali comercializarmos os nossos produtos», refere Nuno Coelho. Segundo o responsável, «a oportunidade surgiu através de contactos com emigrantes aqui da nossa zona, que provaram os nossos produtos e gostaram».

80 por cento da produção da Trancosopedra destina-se ao estrangeiro

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