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Meu querido mês de Agosto

observatório de ornitorrincos

Se o leitor for distraído ou desinformado, saiba que amanhã começa o mês de Agosto. Se for esperto e atento, não estará a ler este texto com certeza. Se for uma leitora que esteja a passar os olhos pela primeira vez por esta coluna, saiba que é tradição – embora muito pouco respeitada – enviar para o autor uma fotografia de corpo inteiro acompanhada do número de telefone. (Tu não, Mãe, já gravei o teu número. E eu prometo que passo a ligar todas as semanas.)

Peço desculpa. Pretendia eu falar sobre o mês que amanhã se inicia e acabo a falar de grandes tradições – embora pouco respeitadas – do jornalismo. Mas lá diz o ditado popular que as conversas são como as cerejas. As que não se aproveitam servem sempre para fazer compota.

Agosto é o tradicional mês de férias, que os portugueses passam entre o Algarve, os parques de campismo e os casamentos. O Algarve é aquele território anexo a Portugal, governado por uma joint-venture de alemães, ingleses e o Macário Correia, com um sistema judicial próprio e curioso – a acusação escreve um livro se os suspeitos são ricos, ou enche-os de pancada se forem indigentes. Se uns e outros não reagirem é porque são culpados e obviamente merecem a cadeia ou um resort de pior qualidade.

O campismo é a oportunidade que muitos citadinos têm de partilhar a vida com a natureza. Note-se que por natureza se considera toda a bicharada que essas mesmas pessoas matariam se estivessem em casa. E por bicharada entenda-se todas as criaturas, hominídeas ou não, que frequentam os parques de campismo. Acampar exige três coisas fundamentais. Uma tenda, ferramentas para a montar e um cartão Multibanco para pagar o hotel quando a paciência faltar. O campismo, posso dizê-lo por experiência, é uma actividade saudável. Quando era pequeno, os meus pais passavam duas semanas no campismo – presumo que fosse por terem uma vida demasiado agradável durante as outras cinquenta e decidiam então experimentar um estilo de vida abjecto durante esses quinze dias. Uma espécie de lição para os meus irmãos e eu percebermos que se não estudássemos o suficiente acabávamos a viver numa auto-caravana ou mesmo num igloo, caso optássemos pelas ciências sociais. Mas aprendi que a vida ao ar livre no campismo pode ser muito saudável. E aprendi isso tudo sem sair da cabana improvisada de pano, fibra e alumínio durante essas mesmas duas semanas. Bastava ver que o meu irmão tinha, no fim das férias, um ar muito mais saudável.

Sobre os casamentos em Agosto há pouco para dizer a não ser que existem vários estudos que provam claramente que uma parte significativa dos casamentos realizados em Agosto que não acaba com a morte de um dos cônjuges, termina em divórcio.

Aviso

Leio nas notícias que um homem disparou sobre um vizinho que lhe salvara o gato de uma árvore por temer que o salvador do bichano tivesse a intenção de sodomizar o animal, uma vez que é reconhecidamente homossexual (o vizinho, o gato mantém em segredo a orientação sexual). Serve este parágrafo para avisar acerca da minha solidariedade com este homem, que se encontra injustamente à mercê da justiça portuguesa. Adquiri já uma arma – uma fisga, que não parecendo, magoa à brava – para atirar sobre pessoas suspeitas que se aproximem da minha gata com intenções suspeitas. Tenho uma vizinha bailarina. Se pegar no bicho, provavelmente é com o intuito de a levar a dançar. Balázio nela. Um outro é professor. Acaso a agarre, não venha com falinhas mansas, quer é ensinar-lhe trigonometria. Tiro no homem. Um dos petizes que habita no mesmo prédio, se o vir a acariciar a gata, é com certeza para falar sobre os Morangos com Açúcar. Pedrada na cabeça. Cuidado.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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