Os números são cruéis mas esclarecedores. Mesão Frio tem a pior escola secundária do pais, com uma média de 6,6. No ano passado foi a da Pampilhosa da Serra. Para o ano que vem, vai ser outra escola de outra vilória moribunda do interior. Ficaremos mais uma vez a saber que, em média, os alunos dessas escolas não atingem os mínimos exigidos pelos benevolentes critérios do Ministério da Educação. Ficaremos a saber que, em média, esses alunos são maus ou muito maus. Em 20, não valem mais do que 7. Ou 6. Ou menos. Um dia vão chegar ao mercado de trabalho e vão começar a pagar impostos e a gerar riqueza. Vão ser o sustentáculo das suas regiões e deles vai sair, não há mais por onde escolher, uma geração de empreendedores e de líderes. Mesão Frio e Pampilhosa da Serra esperam por esse dia com uma compreensível ansiedade. Há mais, muitas mais, terras e escolas assim. Mesão Frio e Pampilhosa da Serra têm duas escolas entre dezenas de outras em que a média da classificação dos seus alunos em exames nacionais é inferior a 10 em 20.
Um professor sueco, a residir em Portugal, escreve ao Público. Conta que no seu país os professores pagam entre 50 a 52 por cento de IRS; que têm a reforma aos 65 anos; que pagam 25 por cento de imposto sobre as reformas; que têm um horário sobrecarregado nas escolas; que o seu estatuto é mais duro e inflexível do que o nosso; que são implacavelmente avaliados. Que têm inveja das condições que os professores portugueses reclamam.
A Economist da passada semana abre um leader com um título fabuloso: “América Drops, Asia Shops”. Em quatro palavras, define o mundo actual. Os americanos, que com os seus hábitos consumistas foram durante muitos anos o motor da economia mundial, decidiram dar algum repouso aos cartões de crédito. Recessão à vista? Não. Agora temos os asiáticos, ávidos por comprar, consumir, dispostos a tomar a dianteira do comboio. É que, enquanto muitos viam apenas a concorrência dos chineses às nossas pobres indústrias baseadas em salários baixos, outros descobriram, entre indianos e chineses, dois biliões e meio de consumidores.
Por uma vez, vi um sindicalista dar o passo seguinte, mostrar ter compreendido o mundo em que vive e tirado as devidas conclusões: o presidente da Comissão de Trabalhadores da Auto Europa. em entrevista ao Público, diz que há que globalizar os sindicatos. Tem razão. Se os chineses roubam os nossos empregos com os seus salários baixos, há que levar as reivindicações salariais à China. Eles também querem comprar e consumir, não querem? Também têm direitos, reivindicações, esperanças.
Um dia, quando o comércio global aproximar salários e preços e regalias sociais, a diferença vai ser feita através de vantagens competitivas no plano da qualidade, da capacidade de inovação, e não já dos baixos salários e do dumping social. Os estudantes de Mesão Frio, que lugar esperam nesse mundo?
Sugestões:
Um vinho (a vida não são só tristezas): Quinta das Estrémuas, Dão 2003, Touriga Nacional. Ainda havia hoje umas garrafas disponíveis, e a muito bom preço, na loja Gourmet da Egicongelados, logo acima do Mercado Municipal da Guarda. Depressa, antes que uma excursão de chineses leve as que restam!
Uma sobremesa: Torta da China, no Belo Horizonte. De um luxo asiático.