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Menos amanteigado, mas tão bom como antes

Venda de queijo rendeu no ano passado cerca de 500 mil euros aos produtores de Celorico da Beira

Menos amanteigado, mas tão bom como em anos anteriores. O veredicto saiu da autêntica bolsa do queijo Serra da Estrela que constitui a tradicional feira de Celorico da Beira, promovida entre sexta e a última segunda-feira. O certame, da responsabilidade da autarquia, contou com a presença de 60 produtores que praticaram preços mínimos de 14 euros por quilo para o queijo de ovelha e 18 euros para o genuíno Serra da Estrela. Mas o negócio não correu muito bem nessa manhã, onde o desânimo tomou conta de alguns dos produtores presentes. «As pessoas não têm dinheiro», explicava uma vendedora que ainda não tinha vendido nada da sua arroba de queijo guardada para a feira.

Esta contrariedade tem pouco impacto nas vendas dos produtores celoricenses. É que normalmente a produção do ano já está praticamente toda vendida muito antes do certame acontecer. Quase todos têm bons clientes a quem é dada a primazia do produto, comprado em grandes quantidades em Dezembro e Janeiro. Mas esta rede privilegiada de contactos não chega. A autarquia tem vindo nos últimos anos a promover acções de venda em Lisboa e vai estar pela primeira vez no Porto em Março. «O objectivo é encontrar novos clientes para os nossos produtores e divulgar o queijo genuíno, chamando a atenção para um produto de qualidade e de origem protegida, alertando os consumidores para as falsificações», refere António Caetano, autarca da autodenominada “Capital do Queijo Serra da Estrela”. Por cá, Francisco do Adro, elemento da organização da feira, adianta que a venda de queijo gerou no ano passado qualquer coisa como 500 mil euros de receita para os produtores locais. «É a actividade principal do concelho, mas infelizmente está nas mãos de gente com mais de 40 anos. Se os jovens não lhe pegarem corremos o risco de ver desaparecer um saber secular e muito lucrativo», sublinha, adiantando que nem a seca dos últimos meses retirou qualidade ao queijo produzido em Celorico. «Está mantida, pode é o queijo ser menos amanteigado por causa da falta de humidade», explica.

O que parece não mudar, segundo o presidente da Câmara, é a produção. Apesar do número de produtores estar a diminuir, António Caetano diz que o volume de queijo fabricado tende a estabilizar. E admite que para esse facto terá contribuído a política de apoio da autarquia aos produtores. «A nossa actuação em termos de acompanhamento apertado ao licenciamento de queijarias e à produção deu resultado. Celorico da Beira produz actualmente o maior volume de queijo certificado, temos o maior número de queijarias licenciadas e temos o maior número de ovelhas bordaleiras. São os ingredientes necessários para sermos e assumirmos a liderança do queijo Serra da Estrela», refere. O autarca só lamenta o fim da Região Demarcada, devido às condicionantes da União Europeia, e receia que qualquer dia um produtor alentejano que cumpra os requisitos expressos no caderno de encargos de fabrico possa produzir queijo Serra da Estrela. «O que é lamentável e absurdo. Os autarcas da corda da Serra têm que desenvolver tudo o que estiver ao seu alcance para proteger a qualidade deste produto ímpar e os nossos produtores», desafia António Caetano. O queijo de Celorico vai estar à venda e à prova na Rua Augusta, em Lisboa, de 1 a 4 de Março, e depois no Porto, na Praça D. João I, de 15 a 19 desse mês.

Luis Martins

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