Após um ano escolar de trabalho é natural termos a devida compensação. Assim, este ano, após alguns dias de praia, resolvemos atravessar os Pirenéus e fazer uma digressão por terras Gaulesas. Sendo consabido que, para além dos Pirenéus, é outro mundo tanto a nível paisagístico como climático, o mais surpreendente desta viagem foi termos encontrado a aldeia natal de René Descartes.
No nosso percurso entre Poitiers e Tours, deparámo-nos com uma aldeia singular, tipicamente Francesa, designada de La Haye-Descartes, no Vale do Loire. Este nome curioso suscitou-nos interesse e a lembrança de que poderia ser a terra natal do grande filósofo do século XVII , René Descartes.
Na verdade, assim era e tivemos a oportunidade única de visitar a sua casa-museu. René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye-Descartes, no departamento de Indre-et-Loire. É considerado o primeiro pensador “moderno” e morreu no dia 11 de Fevereiro de 1650, em Estocolmo, na Suécia, onde trabalhou como professor a convite da rainha.
Com oito anos, ingressa no Colégio Jesuíta em La Flèche, vindo depois a prosseguir os seus estudos graduando-se em Direito em 1616, pela Universidade de Poitiers. É conhecido como filósofo, físico e matemático. Notabilizou-se sobretudo pelo seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático, por sugerir a fusão da álgebra com a geometria.
A aldeia de Descartes fica situada no grande vale de “La Creuse Tourangelle” e a sua situação geográfica e histórica contribuiu grandemente para o desenvolvimento económico, cultural e turístico da aldeia. É também conhecida pela “Cité des trois René”, (a terra dos três René), onde nasceram três grandes vultos: René Descartes; René Boylesve e René de Buxeuil.
Descartes conta com um grande património monumental e cultural assim como boas infra-estruturas desportivas e recreativas.
Ao entrarmos na sua “casa museu”, deparamo-nos com uma grande sala, com tecto revestido a madeira, cheia de manuscritos e ilustrações. Outras três grandes salas marcam visualmente a saga de Descartes. Entre elas, duas bibliotecas que explicam a raiz do saber e de todos os seus anos de estudo. Também se encontram lá cinco grandes obras, entre elas o “Discurso do Método”, “Os Princípios da Filosofia” e “As Meditações Metafísicas”, entre outros escritos que marcaram a sua obra.
A última sala insere René Descartes e a filosofia de uma forma actual e didáctica, num espaço de calma, favorável à leitura e propõe um resumo da história da filosofia.
Se a sua célebre frase “Je pense donc je suis”, “Penso, logo existo” ou a mais comummente conhecida “Cogito Ergo Sum” pudesse ainda levantar qualquer dúvida, o que não tive dúvida nenhuma foi que naquele dia estivemos perante o físico e o metafísico, um verdadeiro puzzle do físico e da alma, quiçá do sonho.
por Ana Maria Monteiro*
*professora de Inglês