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Memória da guerra peninsular

Anotações

“Fortalezas e Fronteiras” é o tema do oitavo seminário internacional que será realizado em Almeida, de 28 a 30 de agosto, no âmbito do programa da recriação histórica do cerco de Almeida, ocorrido em 1810.

Este evento é já um consolidado cartaz de promoção turística e cultural daquela vila do distrito da Guarda, onde se ergue uma das mais simbólicas fortalezas abaluartadas de Portugal.

A importância desta praça-forte foi reconhecida desde muito cedo; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face às difíceis contendas que se avizinhavam.

Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência; a vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.

D. Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.

Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas. Destas, a terceira incursão conduzida por André Massena foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”.

Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5.000 soldados e 115 peças de artilharia.

Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres. Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início, a 10 de agosto, ao cerco de Almeida, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.

O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.

A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins. O conjunto monumental deste baluarte beirão encontra-se rodeada por largos e profundos fossos.

Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.

No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (actual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda.

A recriação histórica do cerco de Almeida contribuiu, uma vez mais, para a preservação da memória da guerra peninsular e outrossim para um melhor conhecimento da riqueza histórica e monumental daquela vila que, em simultâneo, incrementa com um cartaz desta natureza a vinda de um expressivo número de visitantes.

Mas se este evento tem um significado particular para Almeida é igualmente importante para a promoção do distrito, onde deveria existir uma articulação e cuidada calendarização – ao longo do ano, e consoante a especificidade ou tradição de iniciativas locais, já com regularidade – de iniciativas diversificadas que, globalmente, reforçariam a projeção desta zona do país e iriam geral novos fluxos turísticos.

A partir de uma estreita cooperação, da rentabilização de meios financeiros e humanos, potencialização das nossas realidades históricas, culturais, paisagísticas e institucionais podem ser abertos novos caminhos desenvolvimento e um futuro que se pretende melhor.

Por: Hélder Sequeira

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