Pouco mais de metade dos eleitores (56,38 por cento) do distrito da Guarda não foi votar nas Presidenciais do último domingo. É uma má notícia para a democracia, já que a abstenção subiu quase 15 por cento comparativamente às eleições de 2006 (41,7 por cento), quando houve menos 3.465 cidadãos inscritos. Não é por isso de estranhar que o número rivalize com a vitória folgada de Cavaco Silva na região, onde voltou a conquistar os 14 concelhos, embora tenha perdido 15.806 votos relativamente a 2006.
Por sua vez, Manuel Alegre, apoiado pelo PS e BE, ficou ligeiramente abaixo do resultado obtido nesse ano, quando concorreu como independente. Desta vez, o antigo deputado obteve menos 5.376 escrutínios. Quem parece ter aproveitado alguns destes eleitores perdidos pelos dois principais candidatos foi Fernando Nobre. O médico conseguiu furar o barulho das máquinas partidárias e alcançou uns surpreendentes 12,49 por cento num distrito onde PS e PSD têm partilhado o protagonismo eleitoral. Tal como há cinco anos, a Guarda deu a Cavaco Silva o sexto melhor resultado da noite, atrás de Vila Real (65,49 por cento), Bragança (65,11), Viseu (64,97), Leiria (61,64) e Aveiro (60,69). Já a taxa de abstenção foi a quinta mais alta do país, a seguir aos Açores (68,88 por cento), Bragança (60,9), Vila Real (59,94) e Beja (56,5). Localmente, o candidato apoiado pelo PSD, CDS e MEP voltou a obter em Aguiar da Beira a sua maior votação no distrito, com 69,43, seguido de Pinhel (68,80).
De resto, ficou acima dos 60 por cento de escrutínios em oito concelhos, sendo que o seu “pior” resultado verificou-se em Manteigas (51,34). Curiosamente, foi no “coração” da Serra da Estrela que Manuel Alegre conseguiu o seu melhor “score”, com 26,84 por cento. O candidato-poeta teve mais de 20 por cento dos votos em sete concelhos, mas foi em Aguiar da Beira que obteve o seu pior resultado distrital (14,63). Tal como no resto do país, Fernando Nobre foi o terceiro mais votado, com destaque para Celorico da Beira. Na terra do presidente da Federação do PS da Guarda e também do mandatário e director de campanha do presidente da AMI, o independente ficou à frente de Manuel Alegre ao conseguir 18,37 por cento dos votos. O seu segundo melhor resultado aconteceu na Guarda, mas em Figueira de Castelo Rodrigo deu-lhe o pior. Na sede do distrito, Fernando Nobre foi o segundo mais votado nas freguesias urbanas de São Vicente (20,92 por cento) e Sé (20,52), muito atrás de Cavaco.
Bem longe do pódio ficaram os restantes três candidatos, com o comunista Francisco Lopes à cabeça. Paulatinamente, o PCP continua a perder terreno e desta vez o seu candidato obteve menos 1.258 votos que Jerónimo de Sousa em 2006. O melhor resultado aconteceu em Manteigas (5,15 por cento) e o pior na Mêda (1,80). O desaire foi de tal ordem que José Manuel Coelho ultrapassou o comunista em seis concelhos, apesar de não ter o apoio da poderosa máquina do PCP e de nem sequer ter passado pelo distrito. O madeirense acabou por ser o quarto candidato mais votado em Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Guarda, Mêda, Sabugal e Trancoso. Quanto a Defensor de Moura, confirmou o seu estatuto de “outsider” socialista, ao ficar-se pelos 1,08 por cento de sufrágios.
Cavaco menos esmagador na Cova da Beira
A diferença entre Cavaco e Alegre foi menor nos quatro municípios da Cova da Beira. O candidato da direita venceu em toda a linha, mas o socialista conseguiu mais votos do que no resto da região. Cavaco dominou claramente em Penamacor e no Fundão, mas Alegre limitou os danos na Covilhã e em Belmonte. Já Fernando Nobre teve aqui uma votação superior à do distrito da Guarda, com destaque para a Covilhã, onde o independente conseguiu o seu melhor resultado do distrito de Castelo Branco. A seguir, Francisco Lopes segurou o quarto lugar entre os mais votados em Belmonte e na Covilhã, mas foi ultrapassado por José Manuel Coelho no Fundão e em Penamacor. No total distrital, estes dois candidatos obtiveram melhores resultados que no distrito da Guarda, o mesmo acontecendo com Defensor de Moura, que se ficou pelos 1,3 por cento. Também a abstenção foi menor em Castelo Branco, situando-se nos 52,93 por cento.
Luis Martins 
