Um choque entre dois comboios, um de passageiros e outro de mercadorias, é um cenário perfeitamente possível de acontecer na Linha da Beira Alta, mas não passou apenas de um simulacro realizado na tarde de sábado em Vila Franca das Naves (Trancoso).
Neste exercício, o acidente que se pretendia retratar era o descarrilamento de um vagão do comboio de mercadorias que acabou por embater numa carruagem de passageiros. O vagão transportava uma cisterna de peroxido de hidrogénio (vulgarmente designado de água oxigenada) que tombou sobre a via e causou o derrame de um líquido que, em grandes quantidades, pode causar queimaduras ou irritações na pele, bem como das vias respiratórias. Por se tratar de uma substância nociva foi necessário o apoio de um veículo de intervenção química da corporação de bombeiros Ciudad Rodrigo (Espanha), uma vez que este é o equipamento mais próximo e foi adquirido com fundos comunitários para atuar nos dois lados da fronteira.
Na eventualidade de um acidente ferroviário deste género também seria necessário evacuar algumas casas devido aos gases nocivos que as substâncias libertariam, um cenário que também foi retratado neste exercício e era uma responsabilidade da GNR. O alarme soou às 14h55 e inicialmente havia a informação de dois mortos, mas às 17h30, hora a que terminou, o registo era de 20 passageiros e um bombeiro feridos. Como se de uma situação real se tratasse estiveram envolvidos mais de 150 operacionais, de várias corporações de bombeiros do distrito da Guarda e de Ciudad Rodrigo, além da GNR, Proteção Civil Municipal de Trancoso e distrital da Guarda, INEM e Unidade Local de Saúde da Guarda.
O exercício “Livex – Vila Franca das Naves I – 2015” foi promovido pelo serviço municipal de proteção civil no âmbito do Plano Municipal de Emergência e contou com a colaboração da Refer, CP e CP Carga. No final o balanço foi positivo para o vereador da Câmara de Trancoso João Paulo Matias: «Foi possível testar a capacidade de reação, a capacidade de intervenção e, acima de tudo, a capacidade de coordenação das várias entidades envolvidas», declarou aos jornalistas, tendo reconhecido que, «por vezes, houve alguma descoordenação ente a passagem de informação do teatro de operações e a proteção civil municipal». O vereador alertou ainda para a importância destes exercícios considerando que «foi importante não apenas para perceber os meios que temos disponíveis para acorrer a este tipo de situações», como também para sensibilizar os políticos «para perceberem melhor os mecanismos de reação que existem quando há este tipo de sinistros».
Ana Eugénia Inácio