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Meio gato por lebre

ANÚNCIO DE PROCEDIMENTO N.º 276/2009

DESIGNAÇÃO DO CONTRATO: AMPLIAÇÃO DO HOSPITAL SOUSA MARTINS

PRAZO DE EXECUÇÃO: 672 DIAS

PREÇO BASE ESTABELECIDO: TRINTA E NOVE MILHÕES NOVECENTOS E NOVENTA MIL EUROS

DIÁRIO DA REPÚBLICA, N.º 21, II SÉRIE DE 30-JAN-2009

Mais claro não podia ser. Vamos ter, finalmente, dez anos passados sobre as primeiras promessas dos políticos, uma… ampliação do hospital. Vou tentar ser breve e objectivo.

No Verão de 2001 a então pré-candidata socialista à Câmara, Dra. Maria do Carmo Borges, fazia depender a sua disponibilidade para a candidatura de garantias por parte do poder central acerca da construção de raiz de um novo hospital. Ainda se lembram? Candidatou-se e foi eleita.

Quatro anos depois, em 2005, o candidato a primeiro-ministro, Eng. José Sócrates, anunciava num comício efectuado na Guarda: “A Guarda terá finalmente o seu hospital requalificado.” Foi eleito.

Em Maio desse ano o Dr. Álvaro Guerreiro (presidente da Câmara) afirmava: “O compromisso eleitoral do 1º ministro de modernizar o hospital da Guarda vai ser cumprido e tudo o resto são especulações.” Não eram.

Em Outubro do mesmo ano, o responsável pela divisão de Instalações e Equipamentos da ARS Centro apresentava o projecto do “novo hospital da Guarda” ao Eng. Joaquim Valente, candidato socialista à câmara da Guarda em campanha eleitoral. Este último conseguiu ser eleito.

Já em Maio de 2007 a Dra. Maria do Carmo Borges, Governadora Civil da Guarda, afirmava: “Espero que seja este ministro a inaugurar o novo hospital da Guarda.” Não foi.

Na mesma ocasião o Dr. Fernando Girão, presidente do conselho de administração do hospital, acrescentava: “Penso que estão criadas todas as condições para que dentro de 3 anos tenhamos instalações capazes de satisfazer os profissionais.” Não temos.

O Dr. Fernando Cabral, deputado do PS eleito pelo círculo da Guarda, por sua vez, dizia: “Acho que ficou demonstrada a grande vontade política do actual governo em cumprir esta promessa.” Não ficou.

Cinco meses mais tarde, em Outubro de 2007, a Governadora Civil afirmava: “Nada irá atrasar as obras das novas instalações do hospital da Guarda. Espero termos estaleiro no início de 2009.” Não temos.

De então para cá foi sempre a descer. Da miragem de um “hospital novo de raiz” em 2001 chegámos à dura realidade de uma “ampliação” anunciada por despacho em Janeiro de 2009. Chama-se a isto vender gato por lebre. Para ser mais preciso, meio gato e, convenhamos, 40 milhões de euros por meio gato não é propriamente barato.

As personagens citadas nesta crónica (e algumas outras que poupei por falta de espaço) usaram o tema do “novo hospital da Guarda” nas suas disputas políticas e todas, sem excepção, alcançaram os cargos aos quais se habilitaram. Não alcançaram, nenhuma delas, os objectivos que projectaram, as metas que anunciaram, as promessas que utilizaram. E nenhuma delas assumiu (ou assumirá) as suas responsabilidades por isso.

Para concluir direi que vamos ter obras de acrescento no valor de 40 milhões de euros, concluídas, na melhor das hipóteses, em 2011, não se sabendo quando e como ou se se concretizará a tal segunda fase da obra.

Os políticos, estes e outros, vão continuar a debitar promessas, a fazer-se eleger e a contar com o voto, a passividade e o baixíssimo nível de exigência deste povo que somos todos nós.

Por: António Matos Godinho *

* Médico

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