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Mêda – um reino à parte no transporte escolar de crianças

Viver numa aldeia de um concelho que pouco se mostra é por si só um ato de corajosa teimosia. Quem aqui vive sabe e sente que está longe do mais elementar. São poucas as crianças que crescem aqui. Nesta aldeia, apenas uma brinca na rua e a escola fechou há muito. É o Agrupamento de Escolas de Mêda, a 12 km, a única alternativa para frequentar o 1º ano do 1º ciclo. Esta criança, que simbolicamente representa outras tantas deste concelho, tem 5 anos. Vive longe do hospital, da farmácia, do supermercado, mas vive bem mais longe quando é próprio poder local a usurpar-lhe os mais elementares direitos. São indignas as prioridades. A carreira pública, único transporte que passa na aldeia, não serve os interesses das crianças de tenra idade. Sem cadeira de retenção, sem cinto, sem vigilante… Entregues à pura sorte.

A carreira pública que passa nestas aldeias apenas em período escolar não é pública, é indiscutivelmente escolar. A terminologia “carreira pública” é pura artimanha política para fugir às verdadeiras responsabilidades – a lei que regula o transporte escolar de crianças.

Empurradas diariamente para este transporte, quem garante que não se levantam a meio de um percurso longo, por várias aldeias, até ao Agrupamento de Escolas de Mêda? Quem garante que não são levados por um adulto e saem numa das paragens que não a que lhes está destinada? Quem compreende que, sem cadeira e sem cinto, venham sentadas, como infelizmente vejo, nos bancos da frente?

Por estas terras, o tão apregoado “superior interesse da criança” não existe. O direito à segurança e proteção, consagrada a toda e qualquer criança, para no limite dos 5 anos. E reina o silêncio e a indiferença neste reino.

Marisa Pêgo, carta recebida por email

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