A correcção das assimetrias entre litoral e interior está impresso nos manuais de todos os partidos políticos. No entanto, são muito poucas as medidas que efectivamente são implementadas para corrigir o ancestral atraso do interior do país.
O êxodo rural é uma constante. A partir do séc. XV, com os Descobrimentos, os fluxos populacionais, de partida, têm sido constantes. E se durante séculos a elevada taxa de nascimento permitia o aumento população no meio rural, nos últimos 20-30 anos, entre a emigração e a diminuição da taxa de natalidade, as aldeias e vilas do interior foram abandonadas.
Contrariar esta “velha” tendência é desígnio de muitos, mas esse propósito não é fácil. Se é verdade que, muitas vezes, as autarquias locais não gerem da melhor forma os interesses dos concelhos, é igualmente certo que as Câmara Municipais são a única via e instrumento para o desenvolvimento do meio rural. Por vezes gastam dinheiro mal gasto, mas que seria do “Portugal profundo” sem o trabalho e o esforço do poder local?
É neste contexto que tem de ser percebido o esforço de muitas autarquias que, sem muitos argumentos para atrair investimento, organizam eventos que permitem alguma dinamização à actividade económica. É assim também na Mêda.
Concelho que, ao longo de anos, sangrou com a fuga dos seus filhos; terras que ficaram abandonadas; aldeias e vilas moribundas. O relevo de outrora de vilas como Prova, Ranhados, Longroiva, Marialva ou Coriscada não volta mais. Mas é possível aproveitar muito da riqueza cultural e patrimonial destas vilas. O Turismo – que em Marialva já é uma referência, que na Coriscada, com a descoberta de um extraordinário património romano, poderá acontecer, que em Longroiva, com as suas “novas” Termas, será uma realidade, e que em outras terras é ainda esperança – poderá ser um sector determinante. Na novel cidade da Mêda há expectativas de crescimento de vários sectores. Criadas as infraestruturas básicas apostou-se em equipamentos essenciais para a qualidade de vida das populações. Não é fácil conquistar desenvolvimento em pouco tempo. Mas o mais difícil – dar condições a quem fica, a quem quer viver no concelho – já está feito. Parar a desertificação era o desígnio, agora há que procurar novas metas. O tão desejado IP2 tarda, mas quando chegar poderá contribuir decisivamente para a metamorfose que João Mourato reivindica. A Expo-Mêda, que durante o fim-de-semana levará muita gente à cidade é um evento que pretende contribuir para a dinamização da economia, pela exposição de produtos, pelos contactos comerciais, pelo movimento de pessoas… Vá lá. E aproveite para conhecer um concelho muitas vezes esquecido, mas que faz sentido incluir na rota dos passeios. Ali, onde «a Beira acaba e o Douro começa».
Luís Baptista-Martins