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Maria Luís não mente. Mas parece

A dra. Maria Luís Albuquerque começou por dizer que na pasta de transição entre governos que lhe foi entregue pelo seu antecessor, Costa Pina, não havia informação sobre os contratos de swaps de diversas empresas públicas. Foi desmentida por Costa Pina nas declarações que este fez esta semana na comissão parlamentar de inquérito.

A atual ministra das Finanças disse que desde que este Governo entrou em funções não foram celebrados contratos de swaps. Equivocou-se. Ela própria autorizou a transferência de alguns destes contratos para a Parpública.

Também afirmou que quando ocupou a pasta de secretária de Estado do Tesouro não encontrou uma proposta nem qualquer referência ao problema. Constata-se agora que logo no dia da sua tomada de posse como secretária de Estado, o ex-diretor geral do Tesouro e das Finanças lhe falou sobre o caso, tendo-lhe enviado no dia seguinte um documento com o ponto da situação, onde era alertada para as perdas potenciais dos contratos de swaps de quatro empresas públicas.

A ministra diz agora que não havia informação sobre o problema, só numérica. A questão semântica é interessante mas sabe-se agora que três semanas depois de tomar posse pediu e recebeu informação num ficheiro Excel das dívidas das empresas, organizadas por bancos, bem como dos swaps.

Não adianta continuar, embora os e-mails agora conhecidos fragilizem cada vez mais o que a ministra das Finanças tem dito sobre o assunto, nomeadamente que não recebeu informação do anterior Governo, que desconhecia a sua existência e que não foi alertada para a sua gravidade.

Acumulam-se as provas documentais que a contrariam. O ex-ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, mostrou na comissão parlamentar de inquérito o documento que entregou ao antecessor de Maria Luís, Vítor Gaspar, onde existe uma parte especificamente dedicada à questão dos swaps.

O anterior secretário de Estado também sustenta que alertou Maria Luís para o assunto. E os e-mails trocados com o ex-diretor geral do Tesouro mostram que a então secretária de Estado sabia que o problema existia e o que se estava a passar.

Dito isto, não há volta a dar. Foi o anterior Governo que fez a maior parte dos contratos de swaps mas foi o atual que demorou dois anos a tomar uma decisão sobre o assunto quando três semanas depois de tomar posse já tinha informação sobre o tema. O atraso custou aos contribuintes milhares de milhões de euros. E a demora na decisão tem obviamente um rosto.

Maria Luís bem pode continuar a dizer que não mente. Mas que parece que o faz, lá isso parece.

Por: Nicolau Santos

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