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Maria do Carmo sugere demissão de director clínico do Sousa Martins

Por causa das recentes declarações de José Cunha sobre a transferência da maternidade para a Covilhã

A presidente da Câmara da Guarda defende que o actual director clínico do Hospital Sousa Martins não devia continuar no cargo após as recentes tomadas de posição de José Cunha no processo de eventual transferência da maternidade da Guarda para a Covilhã. O médico tem sido uma das raras vozes favoráveis à mudança, ao contrário, por exemplo, dos restantes elementos do Conselho de Administração (CA), o que para Maria do Carmo Borges é mais do que suficiente para dar o lugar a alguém que «lute com todas as forças para a continuidade dos serviços que são bons e que nos prestigiam».

Esta sugestão é feita na entrevista que a autarca concedeu a “O Interior” por ocasião dos 805 anos da cidade (publicada nas páginas 8 e 9), na qual Maria do Carmo insiste que a Guarda «é das três maternidades aquela onde nascem mais crianças», fazendo por isso «todo o sentido» que quem está à frente do Hospital tenha que «lutar forçosamente pelos serviços em que temos qualidade, como é o caso da obstetrícia, onde há um grupo de profissionais excelentes», sustenta. A presidente adianta ainda que está disposta a «ir para a rua» para lutar pela continuidade do serviço. Nas últimas semanas, José Cunha tem fugido à unanimidade que se tem gerado em defesa da maternidade da Guarda. Ao contrário de outros responsáveis médicos, o director clínico justifica que «há razões técnicas que aconselham a diferenciação de serviços pelos diversos hospitais». Mas apesar de confiar que as portas da maternidade não vão fechar, afirma mesmo que na Guarda «pretendemos diferenciarmo-nos em algumas sub-especialidades», revelando que se pretendem criar outras especializações em obstetrícia e ginecologia. «Ninguém quer tirar nenhum serviço do Hospital da Guarda. Aliás, pretendemos que as nossas valências se desenvolvam para níveis de excelência», garantiu recentemente a “O Interior” José Cunha.

Até lá, refere que a decisão da maternidade continuar ou não a funcionar no Sousa Martins cabe «à própria instituição, aos seus especialistas e aos utentes». O hospital guardense tem o maior número de partos e o maior quadro de profissionais da região, «mas ninguém recebe nada de mão beijada», constata o director, sendo por isso necessária uma afirmação ao nível da qualidade. «A melhor competência é que vai ser premiada, trata-se de uma filosofia assente em procurar merecer aquilo que se pretende», confia. Uma posição mais clara assumiu já a directora Isabel Garção, que está convicta de que a maternidade não vai fechar. «Apesar do relatório, há aspectos de geografia local e recursos técnicos e profissionais que têm que ser equacionados», garante, sublinhando que o número de partos do Sousa Martins é «bastante razoável» para manter o serviço com a qualidade que lhe é reconhecida: «Temos condições muito boas para actuar, profissionais muito bons e queremos continuar em frente. As outras unidades da Beira Interior têm muito menos partos que nós e penso que Hospital Pêro da Covilhã não terá pediatras e obstetras em número suficiente para poder receber as parturientes de Castelo Branco e da Guarda», constata.

De resto, esta argumentação já terá sido comunicada à tutela, que também já conhecerá a posição do presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, segundo o qual a maternidade do Sousa Martins não fechará «enquanto continuar a garantir a prestação de serviços de qualidade às parturientes e recém-nascidos». Para Fernando Andrade, o serviço «é de qualidade, pelo que não está em causa o seu encerramento por enquanto», afirmou em Setembro, acrescentando no entanto que o «fio que segura» o serviço é «muito frágil» e pode «quebrar a qualquer momento». No entanto, o médico tranquilizou os mais pessimistas sustentando que, apesar da maternidade não ter os 1.500 partos, tem «qualidade na assistência que presta no parto e pós-parto. Tem pediatras à cabeceira do recém-nascido e portanto não se põe a questão de fechar uma maternidade que tem essa qualidade», afirmou.

Luis Martins

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