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Maria do Carmo Correia deixa Aldeia SOS da Guarda

Com a consciência «absolutamente» tranquila, a ex-directora diz-se cansada com os últimos episódios judiciais e entende que chegou a hora de “passar a pasta”

Depois de 17 anos ao serviço de crianças oriundas de famílias carenciadas e com problemas sociais, Maria do Carmo e António Correia deixaram recentemente a Aldeia SOS da Guarda. «Uma vida» a construir o que hoje existe naquele “forte”, por onde passaram, ao longo deste tempo, mais de 60 crianças e jovens, «a quem dei o que melhor pude e soube», desabafa a ex-directora de uma das únicas três Aldeias SOS do país. As outras situam-se em Vila Nova de Gaia e no Estoril. Embora Maria do Carmo saia com a consciência «absolutamente» tranquila, não esconde que o ano transacto foi «extremamente stressante» devido às suspeitas e recente investigação policial de que a Aldeia foi alvo e, sobretudo, à «pressão» da comunicação social que, na sua opinião, «agiu incorrectamente». Uma situação que a fez pensar que a sua vida «corria risco», além da sua idade não permitir «tanta pressão», pois também só estava na Aldeia em regime de “part-time”, dedicando o resto do tempo à docência na Escola Profissional de Trancoso, para onde regressou. Ainda assim, Maria do Carmo Correia garante a “O Interior” que a sua saída não tem a ver directamente com a investigação, da qual afiança não ter «qualquer» resposta nem sequer saber se «existe alguma», mas somente com uma questão pessoal. E recorda que a forma como os meios de comunicação procederam a fizeram «sofrer bastante», além do ressentimento da própria instituição, mas agora que tudo «está mais calmo», a ex-directora não queria que a imagem daquela casa fosse «prejudicada» pela sua continuidade. Apesar disso, Maria do Carmo garante que continuará a dar «todo» o apoio e conhecimento que adquiriu ao longo dos 17 anos, considerando, de resto, que «é preciso renovar as equipas».

Quanto ao futuro daquela Aldeia SOS, a ex-responsável não prevê dificuldades, até porque «não há ninguém insubstituível» e há «muita gente com formação pedagógica capaz de abraçar a instituição e dar-lhe outra dinâmica», diz. Já relativamente ao tipo de trabalho que se presta no apoio à criança, Maria do Carmo Correia afirma que «precisa de ser revisto», mas ao nível nacional.

Para já, a Aldeia fica sob a alçada de Manuel Matias, presidente do Conselho Directivo da Associação das Aldeias SOS de Portugal, «até encontrar uma pessoa à altura», revela Maria do Carmo. Apesar das tentativas, não foi possível obter, até à hora do fecho desta edição, um comentário do actual director. Na hora da despedida, é com «muita tristeza» que a ex-dirigente se despede das «“árvores” que plantei e ajudei a crescer», adiantando, porém, que vai continuar a morar junto delas e a fortalecer a sua relação, mas agora numa casa fora da Aldeia. Maria do Carmo Correia explica ainda que preferia ter saído após o desfecho da acção judicial que ainda deverá estar a decorrer, mas isso implicava a interrupção do ano escolar, daí o Conselho Directivo da instituição ter optado pela sua saída agora. Isto permitirá que o novo director prepare o ano e as actividades lectivas «à sua maneira, desde o início e com uma estratégia própria», diz, apelando a «todas» as pessoas que ajudaram a construir a Aldeia SOS da Guarda que «o continuem a fazer pelo bem das nossas crianças», conclui Maria do Carmo Correia.

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