Arquivo

Manteigas interpõe providência cautelar contra requalificação da estrada para os Piornos

Município defende o alargamento da via e não apenas a sua melhoria e contesta o corte do trânsito durante os trabalhos, que vão durar quatro meses

A Câmara de Manteigas vai avançar com uma providência cautelar para travar as obras na estrada até aos Piornos, que está fechada ao trânsito até setembro. A decisão foi anunciada por José Manuel Biscaia na passada quarta-feira, dois dias após o início dos trabalhos de requalificação da ER 338.

Em conferência de imprensa, o autarca explicou que a ação será intentada contra o Governo e a agora Infraestruturas de Portugal – ex-Estradas de Portugal – por o município considerar «inaceitável» a intervenção que está em curso naquela via entre a vila e a zona dos Piornos. «Os meios normais de contacto telefónico e por escrito não resultam, portanto, parece que temos que nos socorrer desta força», justificou o presidente. A obra consiste na renovação do pavimento em toda a extensão, melhoria do sistema de drenagem da estrada, reparação e colocação de nova sinalização horizontal e vertical e a reconstrução de muros em diversos locais ao longo do troço. José Manuel Biscaia voltou a dizer que discorda da empreitada, avaliada em 947 mil euros, e do corte de trânsito.

«O Governo e a EP não cumprem nem respeitam compromissos e promessas», criticou o autarca, considerando que a colocação de um novo piso não é solução, nem esta intervenção «é adequada para Manteigas e para o seu desenvolvimento». O edil também lamentou que durante as obras a via esteja totalmente cortada e não exista «um sentido de circulação» para facilitar o acesso ao maciço central da Serra da Estrela a partir da vila. Entretanto, a EP sublinhou, em comunicado, que o alargamento da ER 338 – como é pretensão do município – é «ambientalmente inadequado e financeiramente insustentável». A empresa recorda que esta estrada de montanha, com cerca de 12 quilómetros, «se desenvolve ao longo do vale glaciar, onde se torna muito difícil, ambientalmente inadequado e financeiramente insustentável, qualquer cenário de alargamento da plataforma, face ao terreno acidentado e ao cenário geológico de elevada instabilidade que é atravessado».

Na missiva, a EP sustenta que a atual via está «devidamente dimensionada e responde com boa eficácia ao nível de procura de tráfego. No entanto, requer agora uma intervenção de reabilitação principalmente ao nível do pavimento». Assim, os trabalhos visam «a melhoria das condições de conforto e segurança na circulação». Segundo a empresa, o tráfego médio diário é de cerca de 630 veículos, sendo que destes «apenas quatro por cento são pesados». A EP recorda ainda que a intervenção estava anunciada «há muito» no seu plano de Proximidade e que para a sua execução em segurança «é imprescindível» que esta decorra em período de verão e que se proceda ao corte permanente do trânsito automóvel durante a sua realização.

População protesta

Cerca de duas centenas de habitantes e autarcas de Manteigas manifestaram-se na quarta-feira contra a beneficiação da estrada Manteigas-Piornos e exigiram do Governo uma intervenção condigna que incluam o alargamento da via.

«Queremos uma estrada 338 condigna, reabilitada, com uma largura suficiente. Não queremos um IC ou uma autoestrada, queremos uma estrada regional com os trâmites normais das estradas regionais e aquilo que a própria lei impõe», disse aos jornalistas Luís Melo, porta-voz dos habitantes daquela vila serrana. Durante o protesto realizado junto do Poço do Inferno, no local onde estrada está fechada ao trânsito por causa da empreitada, o responsável considerou que a intervenção é «uma desfeita». «Sentimo-nos indignados, profundamente ofendidos com a solução que foi encontrada. Esta não é a solução que queremos, a que nos foi prometida, nem a solução que vai trazer desenvolvimento ao concelho de Manteigas», afirmou, avisando que o fecho da via durante quatro meses terá consequências económicas numa vila que tem no turismo a sua grande fonte de rendimento. «A população não quer esta beneficiação porque é comprometer para o futuro o alargamento que deve ser feito», acrescentou Luís Melo, lembrando que o traçado atual não permite o cruzamento de dois autocarros.

Habitantes manifestaram-se na quarta-feira para exigir ER 338 «condigna»

Sobre o autor

Leave a Reply