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Manifesto contra um terço

observatório de ornitorrincos

Na passada semana, o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda fizeram aprovar na Assembleia da República uma lei que obriga os partidos políticos a apresentarem pelo menos 33% (um terço) de mulheres nas suas listas concorrentes às várias eleições. Sinto-me mais afortunado e menos pressionado agora que o Parlamento vai precisar de recrutar menos homens. Com a escassez de vocações para deputados, corria sérios riscos de ser recrutado ou pelo menos abordado. Quanto maior for a percentagem obrigatória de mulheres na Assembleia, menor a probabilidade de um partido político nos bater à porta rogando a nossa presença numa qualquer lista para uma eleição. Por isso estranhei o silêncio das mulheres, que agora terão de ser recrutadas quase à força para aparecer no rol de candidatos das forças políticas da nação. Não sei se será muito digno para o movimento da libertação feminina que, agora que os homens deixaram de ser obrigados a ir à tropa, elas tenham passado a ser quase compelidas a cumprir um mandato numa Assembleia qualquer.

Dirão os leitores que sou misógino, revanchista ou apenas gordo. Mas devo confessar, a bem da verdade e porque hoje o texto está pequeno e há muita linha para preencher, que o estabelecimento de uma quota mínima de mulheres seja para que cargo for é um assunto que me diz pouco respeito, a que dispenso pouca atenção e que quase nada me preocupa. Uma matéria que me desassossega mais e me exige maior ponderação do que a participação feminina na vida política é a participação feminina na minha vida sexual.

Espero que estes partidos, sempre muito solícitos a apoiar as minorias, não inventem quotas para trintões solteiros, assistentes universitários sem vínculo definitivo, habitantes do Interior nascidos no Litoral ou simplesmente para rapazes balofos. Caso uma tragédia dessa dimensão sucedesse, teria definitivamente que emigrar. Antes o Colégio de San Benito em Santiago do Chile que o Palácio de São Bento em Lisboa.

Mais uma vez, com esta decisão, o Bloco de Esquerda demonstra a sua incoerência e a incongruência das suas causas. Por vontade dessa reunião livre de partidos trotskistas, leninistas e maoistas a quota mínima de ocupação feminina do Parlamento não seria 33%, mas sim 50%. No entanto, o mesmo Bloco de Esquerda defende a possibilidade de se constituírem matrimónios com 100% de homens, não exigindo sequer uma presença feminina mínima de 33%, como a que ficou expressa na lei eleitoral.

Nada tenho contra uma presença feminina reforçada no Parlamento, desde que não se vistam como Marques Mendes ou não se pareçam com Ferro Rodrigues. Pelo contrário, defendo mesmo que as mulheres deveriam estar em maioria no Governo, nos Conselhos de Administração, nas Direcções-Gerais, nas bancadas dos estádios e – porque sonhar é preciso – no meu quarto. Sinto-me mesmo tentado a defender que a presença masculina nos meus aposentos seja reduzida a breve prazo de 100% para 50% e que, num futuro não muito longínquo, se possa alcançar a percentagem ideal de 33%.

EU VI UM ORNITORRINCO

Diogo Freitas do Amaral

Na realidade, já não posso é ver este exemplar de grande porte à minha frente. É um espécime difícil de passar despercebido, quer pelo espaço que ocupa nas lentes das câmaras de televisão quer pelos estragos que provoca de cada vez que abre a boca. Considerando a sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros um monumento precioso em pedraria fina, nunca num governo do país um ornitorrinco se pareceu tanto com um elefante numa casa de porcelanas.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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