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Mais uma loja de chineses na Guarda

Comerciantes estão apreensivos por causa da abertura de uma nova loja de artigos chineses no centro

A Guarda vai ter mais uma loja de artigos chineses. É a oitava do género na cidade. Não fica no velhinho Cine-Teatro, mas está perto, mais propriamente nas traseiras do edifício, nas antigas oficinas da Lúcio Romão, entre o Café Central e o banco Montepio.

Neste tipo de lojas, a linguagem dos negócios parece ser universal, mas nem por isso agrada aos comerciantes vizinhos. Apreensivos, os mais antigos lojistas da cidade sentem-se ameaçados com a proliferação destes espaços comerciais. Manuel da Fonseca – “Manel das Louças” – é um dos “dinossauros” do comércio do centro. Com 82 anos de idade e mais de 40 de actividade, nem quer acreditar na “novidade”: «Com o número de lojas chinesas que já há na Guarda como é possível que abra mais uma», interroga-se. A reacção de José Duarte, proprietário do estabelecimento do lado não é muito diferente. Admite que, na última década, «com a chegada das grandes superfícies», o negócio tem estado “pela hora da morte”. «Mas o grande problema é o estacionamento», garante. Ou a falta dele. «E a polícia não facilita: não deixam as pessoas parar em segunda fila. É a verdadeira caça à multa, a única coisa que as autoridades sabem fazer nesta cidade», acusa.

E depois há a promessa da construção de três “shoppings” na Guarda: «Antes não havia nada e agora passamos do oito ao 80. Pode ter a certeza de que o comércio tradicional vai fechar por completo», avisa. António Júnior é, há 51 anos, empregado da loja Canotilhos, a escassos metros do lugar onde vai surgir o novo comércio chinês. «Não sabemos quem nos pode ajudar, mas penso que a Câmara pode e deve pôr um travão nisto», começa por dizer. O problema está nos preços baixos que esta concorrência pratica. «Muitas vezes os seus produtos nem são assim tão maus, alguns são os mesmos que vendemos aqui», refere, explicando que «os chineses conseguem negociar preços baixos com mais facilidade no seu país do que um estrangeiro, para além de comprarem em maiores quantidades». Menos preocupada está Alcina Baptista, da Drogaria União. «Tenho notado que as pessoas vão lá comprar, mas é só uma vez. Depois regressam, porque os nossos produtos têm mais qualidade», sustenta.

Mas o segredo desta certeza nem é esse: «Há 37 anos que temos uma relação de grande amizade com os clientes. Trocamos sempre uma palavra com eles e sei que são fiéis sobretudo por isso», acrescenta. Na Casa das Malas, comércio com uma tradição de 29 anos, Goreti Eusébio pensa da mesma forma: «Chegamos a ter produtos que oferecem garantia de 10 anos», argumenta. O certo é que, com ou sem críticas, a concorrência não perdoa e Zuli Zeng, que já tem duas outras lojas de artigos chineses na Guarda, vai mesmo avançar com um terceiro estabelecimento.

Rosa Ramos

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